sexta-feira, fevereiro 12, 2010

membrana

Aquela mulher tinha as mãos finas. Mãos macias de pouco uso doméstico. A tinta do esmalte durava muito nas unhas daquela mulher. Ela não era dessas mulheres que não faziam serviços de casa por pura inconsequência ou futilidade; tinha a sorte de nunca ter precisado fazê-los... Alguém sempre os fazia por ela: de empregada doméstica ao próprio marido. Era uma mulher que passava longe do cloro, escovão ou sabão em pó. Também não tinha talento com a jardinagem, as plantas acabavam morrendo se fossem responsabilidade dela. Não sabia como regá-las e acabava por reunir todos os vasos no quintal para que a chuva se encarregasse de molhá-los.
Já disse que era uma mulher de unhas feitas. Era, também, uma mulher que cheirava bem, perfumada, engomada.
Mas essa mulher havia de comer feijão todos os dias! Se esquecia dos grãos, do ferro de cada dia, seus pés desprendiam do chão e, essa mulher, saía voando. Quem a via condenada de tal forma ao feijão, entendia que os gestos delicados daquela mulher não se tratavam de frescura; eram condinação da vida etérea a que ela pertencia. E olhando atentamente a mulher, o coração se enchia de dó e de respeito.

2 comentários:

Ana Palíndromo disse...

adoro descobrir que as pessoas escrevem...
digo... bom ler as pessoas é como descobrir a sensibilidade do outro.
um jeito de olhar.
bjinho
ana (do curta)

Ana Palíndromo disse...

legal descobrir que as pessoas escrevem.
é uma forma de ler as pessoas.
descobrir um pouco da sensibilidade.
é só um jeito de olhar.
gostei das suas escritas.
um beijo
ana (do curta)