segunda-feira, maio 30, 2011

back in the ussr

Sozinha na casa dele me lembro da minha geladeira russa: um pequeno espaço entre as partes de uma mesma janela a apoiar leite e suco de frutas.

Na vista daquela janela, meus poucos produtos - somente aqueles que podia carregar do supermercado ao alojamento - e o branco da neve ao fundo.

Nunca me senti tão triste e melancólica como me senti na Rússia.

Os curtos períodos de Sol, a brancura do inverno e toda aquela paisagem que insistia em me fazer retornar à infância.
A impressão de que a qualquer momento a bruxa ou a fada da neve me buscariam em seus trenós e me enforcariam com seus longuíssimos cabelos, eu e a minha angústia.

A nostalgia de meu pai comunista e da minha mãe que, nos anos oitenta, falava russo. Os desenhos do livro onde ela aprendia a língua, as frases que me ensinava -мать, купить вишни? .

Jhon Reed e os 10 dias que abalaram o mundo, a Internacional Comunista que por obra do meu pai tocou no lugar do tradicional "Parabéns para Você" no meu aniversário de 8 anos, se encontravam com a pequena marcha de 8 ou 10 socialistas que vi pelo Kremelin.

E a todo canto, desenhos de lendas e fadas da neve pintados a ouro nas caixinhas de madeira.

Voltando ao frio de hoje e à casa dele: já não sou mais Cachinhos Dourados por aqui... já tenho gavetas, gatos e a baixa temperatura me traz memórias russas. Memórias de quando eu fazia charme para agradar meu pai e torcia pra “Coviótica” nas Olimpíadas.

E, sincronicamente, o símbolo daquela Olimpíada era um urso “coviótico - soviético”.

Mas hoje a Cachinhos Dourados não só toma a sopa do urso, mas faz planos com ele de constituir família.