segunda-feira, setembro 27, 2010

na ponta dos pés o salto

domingo, setembro 26, 2010

saltos mortais e caminhos

1 - Dois anos depois isso ainda faz sentido:


2 - A menina estudou até o pré numa escola que se chamava "Caminho Aberto". Todos os dias vestia a calça vermelha e a camiseta branca que estampava o nome da escola, também em vermelho, do lado esquerdo na altura do coração. Todos os dias, "Caminho Aberto" estampado em seu peito. Só agora entendia: caminho certo é aquele que se escolhe e se assume como seu. E quando assim acontecia, o caminho se abria.

segunda-feira, agosto 30, 2010

pausa

Desculpem os que aqui me visitam pela falta de posts. Acontece que a vida anda parecendo ficção e o peito em sobressalto tem tempo apenas de absorver o que acontece... sem transformar, por hora, em palavras escritas... Logo mais refloresço.

sábado, agosto 14, 2010

let's dance little stranger

sexta-feira, agosto 13, 2010

pra onde vão as pessoas que eu invento?

Te olho de costas e vejo um outro. Não te conheço, mas sua forma e imagem me sugerem alguém que só tem vida dentro de mim. Sempre gostei de inventar pessoas. E por gostar muito de gente, me tornei atriz.
E escondida, ainda menina, na pequeniníssima lavanderia da primeira casa onde morei, fechava os olhos pra pegar desprevinida toda essa gente que aqui dentro existia (e ainda existe).
Queria eu poder reunir numa mesa bem grande, farta de comida boa, toda essa gente que coleciono.

quarta-feira, agosto 11, 2010

a pessoa é para o que nasce

terça-feira, agosto 10, 2010

ponto focal

Não gosto de tons excessivamente poéticos e de quem se esforça por falar coisa bonita. Poesia pra mim é igual a miopia, ou o olhar já nasceu enviezado - e a imagem é transformada antes mesmo de chegar à retina - ou se vê o esforço de quem quer ver pássaro em qualquer canto. Acho chato, piegas.

pedagogia divina 2 ou temperamento das flores

E quando se esquece delas as orquídeas aparecem.

terça-feira, julho 27, 2010

pedagogia divina

No dia em que se separou a mulher cortou o dedo. O corte foi desaparecendo devagar, assim como a dor da ruptura: sorte daquela mulher. Pedagogia divina! Machucado sempre sara, cicatriza. Quase sempre deixa marca. De algumas a gente gosta e até se orgulha da história da ferida. Outras incomodam. Mas invariavelmente antes ou depois de casar, sara!

quinta-feira, julho 22, 2010

o conselho que miranda july se daria... se pudesse dar um conselho a si mesma no passado

"Tente lembrar que depois deste dia haverá outro e outro. Este não é o único dia em que você sentirá algo, então guarde alguns sentimentos para os outros dias, ao contrário disso eles serão longos e vazios. Não é nem um pouco uma boa ideia usar seu cabelo para cima, faz você parecer a esposa de um presidente. Especificamente, Eleanor Roosevelt. Fora isso – tentar sentir muito e usar seu cabelo para cima –, você fará tudo certo hoje. Mas, como de costume, você achará que está fazendo tudo errado, então a parte final de meu conselho para você é: você não está."

isso aqui é uma pausa

()

viver é simplesmente um grande balão

Voar pro céu azul é a missão.

refazenda sou eu, refazendo tudo, andando de ré...

As palavras me faltam, mas os outros dizem por mim. Gil, novinho e brilhante, falando do seu 'novo disco' de então.

quinta-feira, julho 15, 2010

pídgin de viagem n°2 - turquia



meu diário visual de viagem.

pídgin de viagem n°1 - borgia - sul da itália



meu diário visual de viagem.

terça-feira, junho 29, 2010

na argentina, esse livro caiu em minhas mãos e eu disse sim

Em "Las Palabras Andantes", o uruguaio Eduardo Galeano escreve muitas ventanas. Essa foi a que mais arejou meus pensamentos:

VENTANA SOBRE EL CUERPO

La Iglesia dice: El cuerpo es una culpa.
La ciencia dice: El cuerpo es una máquina.
La publicidad dice: El cuerpo es un negocio.
El cuerpo dice: Yo soy una fiesta.


Simples e lindo! A edição desse livro é ilustrada pelo brasileiro José Francisco Borges, pernambucano fazedor de cordel.

taxis: sp - bs as -sp

Ele, brasileiro, uns 56 anos, humilde, pede licença. Revistas de celebridades para os passageiros, quer agradar. Só liga o rádio para saber do jogo quando o cliente se interessa pela copa, senão... fica sem saber o resultado da partida. Tem um neto lindo, bonzinho, mas carente. Sua filha casou com um homem que não vale nada, está preso, um miserável.

Ele, argentino, uns 48 ou 50 anos, simpático, torcedor e fã do Maradona, confiável, pai solteiro de uma filha de 22 anos. A filha é universitária, estuda Relações Públicas. O pai, um pouco índio, soriso fácil, choro escondido.

Ele, paraguaio, uns 56 anos, animado, ri a toa. Do Brasil diz que queria a Xuxa e todas as paquitas. Já morou na Itália, 2 anos, na Calábria, onde a gente é realmente boa. E o amor? O amor é como o futebol: muitos jogos, muito choro e muita glória. Está com a mesma mulher há 30 anos. Se viram e em dois meses estavam casados. Amor, amor, amor... futebol, futebol, futebol. Tem um sobrinho, orgulho da família, que joga numa seleção italiana.

Ele, uruguaio, 31 anos, pai de uma menina e de um menino. Torce mesmo para o Uruguai, que está em seu coração mesmo estando na Argentina desde menino. A cidade de Buenos Aires é muito linda, mas o Uruguai... Montevideo, Punta del Este... Pega-se um barco e em uma hora se está lá!

Ele, argentino, 63 anos, voz grave de fumante. Senso de humor apurado. Político, indignado. Se Deus nos fez a sua imagem e semelhança, imagine como ele deve ser...

Ela, brasileira, 46 anos, bonita em sua camisa estampada. Carro limpíssimo, organizado. No rádio, Caetano Veloso canta. Tranquila, quase zen. Divide o taxi com seu pai: de manhã é dele para que ela possa praticar yoga e a noite é dela. Leo Jaime começa a cantar sua mensagem de amor, ela balança seu corpo magro para os lados, empolgada. A noite é dela...

terça-feira, junho 22, 2010

vôo mesmo

E no terceiro dia aprendeu a voar: um pequeno impulso com os pés a levava pro alto. Sempre achou que aquilo era apenas leve flutuação, mas Chico Buarque ensinou a ela que não. Era vôo mesmo. Vôo solo.

segunda-feira, junho 21, 2010

LIV and let die

domingo, junho 20, 2010

ela

Se no tempo que gastava pensando em determinados homens (e isso poderia ser medido por toda a sua vida, desde a mais tenra infância), lesse todos os livros de sua estante, biblioteca do bairro, biblioteca da cidade, livrarias... seria a pessoa mais inteligente que já houve... ou, pelo menos, a mais culta.

madrugada

Escrevo no escuro para enxergar melhor. Tentativa desesperada de ordenar o que vejo (e não vejo - escuridão). Sensação de que tudo está e sempre esteve desestruturado, caótico, por um fio. Busco culpados. Não acho. Encontro uma moça que gosta de pisar no vazio e voa sobre a cidade (leve e inconsistente).

quinta-feira, junho 10, 2010

sonido

Colo pedaços de conversas de gente que não conheço ouvidas enquanto ando na rua. Aperto o passo para a frase não fazer sentido; não me interessa chegar ao final do que está sendo dito. Quero retalhar a fala da multidão desconhecida, passar rápido pelo semáforo, atravessar a longa avenida, deixando meus ouvidos furtarem o que virar sonido.

E assim:
estou chegando quando eu fui morder o McMelt férias em Rio Claro nossa essa mulher do elevador a minha mãe é de Curitiba comer no Center 3 passa lá depois menor respeito.

Chego ao outro lado da rua, piso firme no asfalto e fico parada. Fecho os olhos para não ficar louca e volto às diversas vozes que existem dentro da minha cabeça.

pídgin

Existe uma expressão em italiano que eu adoro: "fare una googolata".

No meu terceiro dia de gripe, computador no colo e São Google comigo... algumas descobertas, googolatas para a palavra "pidgin" (que a cada dia me agrada mais).

- Site da revista Pidgin, uma publicação dos alunos de pós-graduação da Escola de Arquitetura de Princeton. Lá você encontra o trabalho dos estudantes, professores, funcionários e amigos da SOA - Princeton School of Architecture. Muito legal!

- Descobri também que pidgin é um Software Livre para mensagem instantânea (o antigo GAIM). Sei!?!?!

- E o que eu mais amei foi o Pidgin Phrasebook, um guiazinho da coleção Lonely Planet sobre as línguas faladas na Oceania. Estão lá os pidgins e crioulos da Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão, Vanuatu, no norte da Austrália e do Estreito de Torres. Frases rápidas pra você não se apertar por lá! Adorável! Muito me inspira e ativa a imaginação, pelo menos a minha!

segunda-feira, maio 31, 2010

wikipedia ao meu bel-prazer

Governava a si mesma. Exímia caçadora. Costumava combater montada a cavalo, mas não era raro comparecer a pé nos campos de batalha. Vestia peles de animais ferozes, que, lhes caindo até o joelho, estavam presas ao ombro esquerdo, deixando a nu a parte direita de seu corpo. Usava escudos em forma de meia lua. E diz-se que, para melhor manejar o arco e a flecha, bem como a lança e o machado, armas em que era destra, cortava um dos seios, o esquerdo no caso.

o garçom

O garçom percebeu que eu estava triste:
- Moça, trouxe ketchup pra você por na batata. Fica mais gostoso!
Sorri um sorriso amarelado de quem não está ali. Comi olhando o nada, me levantei para sair. O garçom voltou a mim:
- Moça, você esqueceu o celular na mesa.
Voltei pra pegar o telefone esquecido e fui pagar a conta no balcão da lanchonete. De novo, o garçom:
- Moça, você vai deixar toda aquela água na garrafa? Ainda falta um monte pra acabar?
Voltei à mesa e levei a garrafa comigo. Sem muito olhar pro garçom, por pura vergonha e tristeza, saí. Ele foi atrás de mim, olhou doce nos meus olhos e disse:
- Boa noite moça. Vai com Deus.

Dormirei bem porque o garçom me cuidou com carinho.

domingo, maio 30, 2010

ar

O quarto ensolarado ainda existe, mas não existo mais dentro dele. Meu corpo se descolou daquela cama. No dia de ir embora, minha alma ainda queria ficar no edredom branco quentinho. Eu a comprimi entre meus dedos e não a deixei escapar. Levei ela comigo e te deixei junto ao quarto: ali sozinho.
Minha alma ainda pede a sua; mas alma, como criança, precisa de limite!
E foi assim que segui muda, calada, sozinha.

sexta-feira, maio 28, 2010

ouro preto



domingo, maio 09, 2010

solitários

O homem pediu a ela que sumisse, que virasse pó, que fosse embora para nunca mais. Dizia quase sem voz, como um velho doente cheio de pigarro no peito. Evitava olhar para ela. Dizia com os olhos fixos num pedacinho de raio de sol que entrava pela fresta da persiana quebrada - o primeiro sinal do dia que pouco a pouco rasgava a madrugada.
Não olhava para ela, mas tinha clareza de cada gesto que ela fazia por pura sensação, por sentir muito aquela moça. Era com dor que a expulsava, dor que dói no corpo e deixa a alma furada.
Mas ela tinha que ir embora, tinha que sumir de sua vista para todo o para sempre, tinha que deixar de respirar quente toda noite perto do peito dele. Aquele homem amava a solidão e tinha medo de gente. Mas aconteceu de amar e amar acontece mesmo quando a gente ainda não sabe o que fazer como o amor.
Ela saiu como se tivesse engolido um buraco. Sem nada entender, nunca mais voltou. Um rombo se fez em sua alma.
Hoje já retalhada a moça se desenganou do grande amor e entregar-se nunca mais aconteceu.
Dois solitários surgiram no mundo: o homem e a moça.

da minha nova paixão por stop motion

Esse foi presente da Roberta:


Esse recebi de Alice, aquela do país das maravilhas:



Quem souber de mais algum, posta aí nos comentários. Merci!

quinta-feira, abril 15, 2010

zona azul

Reparou que não é preciso anotar o ano em folhas de zona azul? (sorriu). Passou a guardar sistematicamente todas as folhas que usara. Seu projeto consistia em brincar com o calendário e facilitar coincidências. Zombava do tempo com uma pasta onde ficariam arquivadas as folhinhas usadas para futura reutilização. Guardava-as de forma organizada, digna de colecionador. No ano seguinte, pasta em punho para todas as horas de necessidade veicular, acabaria por sincronizar os eventos. Folha usada no passado misturando-se ao acontecimento presente, necessidade futura. Mescla de ruas, avenidas, postes e sinalização. Juntaria passado, presente e futuro como em física quântica. Isso a excitava e a deixava feliz, além de promover pequena economia doméstica.

sábado, abril 10, 2010

sorry it's all that i can say!

Relendo o blog percebi quantos erros de português eu cometi! Corrigido. Acho que foi o inglês que deixou meu português mal das pernas! Sorry!

quinta-feira, abril 01, 2010

me, myself and i

De verdade, eu não existo!

segunda-feira, março 29, 2010

domingo, março 21, 2010

chica viajera

A primeira viagem que fiz e que guardo na lembrança foi ao Espírito Santo. Lembro da sensação de achar que tinha mudado de cidade e de achar que moraria para sempre na casa de um amigo de meu pai, do Partido Comunista, que hospedou a gente.
Lembro que nessa viagem minha mãe comprou pulseiras pra eu jogar no mar para Yemanjá. E que eu queria as pulseiras pra mim.

Pensando hoje no que se tornou esse blog durante essa viagem atual, voltei ao Espírto Santo e a essa primeira viagem.

Tenho sorte, já passei por muitos lugares. Sorte e investimento. Acredito mesmo no poder transformador do ato de viajar; assim como acredito no poder curativo do ato de escrever. Escrever e viajar me salvam, às vezes de mim mesma.

Lendo os últimos posts percebo minha tentativa em me tornar objetiva em anotações de viagem. Sempre registro dados subjetivos e, dessa vez, pensando em compartilhar, o exercício está sendo o avesso disto: anotar dados específicos.

Tudo isso pra dizer que o tom de diário que o blog assumiu é puro disfarce!

Logo mais ele volta a me salvar. E quem quiser, me acompanhe.

kontakthof with ladies and gentlemen over 65

Nem acredito que vou ver 'KONTAKTHOF', espetáculo da Pina Bausch onde todos os dançarinos têm entre 65 e 75 anos de idade! Vai ter também a versão 'Kantakthof With Teenagers over 14', mas para essa eu não consegui ingresso...

sábado, março 20, 2010

i love Niki!



para quem nunca ouviu falar sobre ela clique aqui e seja feliz!

e depois clique ali e veja como ela era fodona !

reproduzo aqui trechinhos do meu caderno de viagem

Pedacinhos dos dias em pequenos acontecimentos:

LONDRES

07/03 - faz Sol e a cidade está clara.

08/03 - pego o ônibus errado que me leva pro lugar certo. devia mesmo passar o dia em Kensington Gardens e não no British Museum. o parque é muito inglês, muito diferente do que a minha vista costuma ver. é lindo. as crianças são lindas cheias de agasalhos. vejo um tronco de madeira esculpido com figuras dos livros de fadas daqui... essas imagens foram feitas por alguém que viveu muitos invernos. é lindo.

09/03 - o British Museum me parece estranho. fico fascinada com a possiblidade de ver uma apanhado das coisas mais incríveis do mundo, mas me cheira muito a saque e roubo. não gosto.
o entorno do museu é lindo, tem uma loja muito antiga de guarda-chuvas...
chorei sozinha e boba vendo o 'Alice' feito a mão pelo Lewis Caroll na British Library (que é um dos lugares mais bacanas daqui. se eu morasse aqui não sairia de lá)...

10/03 - dia frio perto do rio. livros engraçados e específicos como "How to do Shakespeare" ou ainda, "Alternative Shakespeare Auditions for Womens"...

11/03 - Tate Modern. Todos os museus do planeta deveriam ser de graça. Niki de Saint Phaelle me impressiona a cada nova descoberta. tipo de mulher fodona!

12/03 - saindo da parte óbvia, Covent Garden é incrível! Neal's Yard, brechós incríveis e o ótimo Food for Thought.
ninguém se olha por aqui, ninguém. cada um se veste como quer, faz o que quiser. agora entre no The Elephants Head ou em qualquer outro pub animadinho que o povo muda. é bizarro, tudo muito organizado (lugar certo para se olhar).

13/ 03 - notting hill sem carteira.

14/ 03 - Brick Lane. quando a conversa é boa chama mais atenção do que a feira.

15/03 - sapatos e jóias de época (incríveis) num dos museus mais bizarros do mundo, tem de tudo. só podia ser do lado da Harrods... seu desejo em 24 h em qualquer parte do mundo...

16/ 03 - camden town me gusta!

17/ 03 - a National Portrait bem acompanhada pelo Du. ingleses reprimidos bebem demais e viva st. Patrick!

18/03 - Hampstead bem acompanhada pela Isa. e o bairro é lindo. um outro mundo dentro de Londres.

19/03 - Berwick Street Market e suas barracas. do frango da Malásia ao azeite de trufas, do melhor brownie do mundo ao molho de beterraba polonês... você prova tudo. Brick Lane a noite '1001'.

20/03 - o melhor do Natural History Museum é a arquitetura do prédio onde ele fica. infeliz idéia de ir sábado de manhã passear por lá, crianças e pais de todas a etnias querendo ver dinossauros. talvez só gostasse se levasse uma criança comigo. King's Road e Vivienne Westwood.

21/03 - Parei num Pret a Manger da vida pra comer. Não tinha lugar pra sentar, comprei um sanduíche e queria voltar pra Leicester Square... me perdi e fui parar na Piccadilly Circus, bem na estátua de Eros, repleta de turistas de todas as línguas possíveis e imagináveis. A fome tava grande... comi por ali, desviando das fotos alheias...
Green Park... florzinhas amarelas, sol e grama pra deitar.

22/03 - hoje não estou para fogos de artifícios, mas o vizinho está. esqueço às vezes que sou bicho, mas a natureza vem me lembrar. entendi, então porque o desejo de ficar quietinha. só sai pra comer kebab e fazer compras pra casa da Isa - o dia tava escasso hoje e tudo tava acabando. mas amanhã vou pra Berlin e aí já é outro país.

BERLIN

23/03 - Berlin começou na Karl-Marx-Straße (estação de metrô) onde vi a apresentação dos alunos de teatro do Mau (meu amigo da faculdade que mora aqui). Peça interpretada por crianças sempre me fazem sorrir muito, mesmo quando as crianças falam alemão (um alemão confuso, já que o bairro era quase na totalidade formado por imigrantes). Hoje Berlin terminou num restaurante mexicano com o Chaves pintado na parede.

24/03 - O primeiro Bob Wilson a gente nunca esquece, ainda mais no Berliner Ensemble. "Shakespeares Sonettes"


25/03 - Faz sol! Beira rio + sorvete e waffle com calda de cereja. Mau me mostru toda cidade e Gabi me levou pro boteco!

26/03 - Recomendo, recomendo: Mano Cafe !
Restos do muro na East Side Galery.

LONDRES

27/03 - Saudade do pão da Alemanha. Volta para Londres. Chuva fina.

28/03 - Dia em Chelsea... FROCK ME!

29/03 - Eu vi Ophelia no Tate Britain e me acabei com os danones de vanila e lemon curd do supermercado Sainsbury's

31/03 - 390 to Archway - mini mundo no ônibus... à minha direita uma sul-africana, à minha esquerda uma chinesa, na minha frente um indiano e, se prepara pra descer no próximo ponto uma mulher de burca

01/04 - "Identity 8 rooms 9 lives" é o nome da exposição que vi hoje na Wellcome Collection. Identidade foi o tema do último Eipa (organizado pelo PIU - coletivo que faço parte). Tão legal o olhar deles sobre o tema. Gostei de descobrir a artista francesa Claude Cahun, fiquei muito impressionada com o trabalho dela.


02/04 - Hoje é feriado e a cidade está feliz! Cheia de novos turistas que vieram passar esses dias por aqui... como isso muda a cidade! Impressionante! Engraçado já perceber. Soho pela tarde. Irônico, mas fui jantar num restaurante japa em... Camden. O garçom recém chegado do Japão fazia tudo para me ver feliz. Gostei tanto dele, nunca vi mais simpático... me deu uma vontade de que ele seja a pessoa mais feliz do mundo e tenha uma vida boa!

03/04 - Vi "Kontakthof with ladies and gentlemen over 65", espetáculo da Pina Bausch de 1978. Indescritível, impressionante, lindo, lindo, lindo! O mais lindo da Pina que eu já vi! Êxtase total! Tão triste, tão engraçado. Não sou de chorar vendo coisas, mas desabei. Voltei pra casa sozinha chorando pelo metrô e desaguei quando entrei em casa. Mexeu de forma tão intensa comigo. Hoje é aniversário de 85 anos da minha avó Julieta e ganhei de presente ver gente da idade dela dançando. Sentimento de plenitude, de gratidão.

Reproduzo aqui a parte final, mas no youtube tem as 16 partes.


04/04 - a chinesa perguntou se nossos cílios eram de verdade e insistia em falar conosco em espanhol... "muy grandes, mi dios!"

05/04 - passeio pra despedir da cidade e pra me despedir deles dois. com direito a fotos turísticas e jantar em chinatown.

06/04 - dia todo em kentish town. aeroporto de noite, muito triste de ir embora... mas ansiosa pra colocar a vida em prática.


apartes:

- minha grande referência inglesa além de Chaplin e Beatles: devo confessar - Mr. Bean - como não lembrar do episódio de natal na Harrods?

- criações incríveis no modo de se vestir. a moda acontece na rua, ao vivo, a todo canto e ninguém tá nem aí... nada é estranho (só um cara com o pau pra fora mijando na H&M - aí a galera olha e comenta passada!!).

- English Breakfast é uma experiência antropológica! cruzes...

- os uniformes dos colégios são incríveis e valem ouro em brechós de todo tipo.

- os ingleses são extremamente amáveis (sei que tô generalizando), mas quando cheguei, no metrô, todo mundo queria carregar a minha mala (homens e mulheres).

- planet kebab i love you!

quarta-feira, março 17, 2010

longe

De longe as coisas mudam de proporção. O que era pequenininho e desimportante, ficou enorme. E o que era enorme; amentou e já murchou, quase ruiu. Fico assustada quando percebo tantas coisas em mim que não sabia, tantas sensações escondidinhas que querem ganhar vida. E eu que as ignorava como alguém que não sabe o nome do seu próprio vizinho. Agora já sei e escolho de novo.

sábado, março 13, 2010

combinação pra me fazer feliz no inverno daqui

Tilleul + oranger + camomille = la tisanière

terça-feira, março 09, 2010

aula de artes no British Museum

Desenhe a obra que você mais gostou.


segunda-feira, março 01, 2010

perto do coração selvagem

Sonhei com elas. Leoas. E eram duas. Moravam na banheira da minha casa. Uma delas apoiava a cara na minha coxa.

decapagem

It's not you, it's me! It's not me, it's you!

marchetaria

Ela me inspira, sim!

alvenaria

Enquanto os outros trabalham, espero culpada embaixo do cobertor.

japonesa

Mesmo sendo mulher, a gueixa me seduziu. Ela fingia que não sabia que me seduzia, mas escolhia seus gestos e trejeitos milenares. Tudo o que aquela moça de traços delicados aprendeu era agora arma de sedução para cima de mim. Ela fingia que me fazia massagem, fingia que não era bonita, fingia que era humilde, fingia que era tímida. Se fosse homem me entregaria e seria 'morto' pelo olhar miudinho da moça que mais era bruxa. E dizem que não existem bruxas no Japão.

insight guides

Pode ser que daqui a alguns dias eu veja troncos, galhos e folhas secas. Pode ser que tire do armário o casaco de lã de carneiro mais viajado do que eu. Pode ser que meus lábios ressequem e peçam carinho. Pode ser que eu entre em museus e galerias. Use meus passaportes novos, o azul para saír e o vermelho para entrar. Pode ser que faça as malas às pressas, sem muito pensar em roupa e bijuteria. Pode ser que volte logo, pode ser que dure um mês. Pode ser que tudo se transforme e eu parta para outra por aqui mesmo. Pode ser que não sinta saudades, pois aqui ficarei. Pode ser que eu continue com saudades de quem lá está. Tanta coisa pode em tão pouco tempo que me dá dor de barriga. Sou um ser ansioso que quer abocanhar o mundo, morder e mordiscar, com violência e também amor, o que me pertence e o que empresto para mim. Agora, quem sabe, vou emprestar essa nova cidade. Já tenho um "Insight guides" que me ensinará a andar a pé por lá. Talvez eu ande por lá. Talvez eu ande por aqui mesmo em novo trajeto de ruas e avenidas.

domingo, fevereiro 28, 2010

ctrl+alt+del

Já fui enterrada viva. E já enterrei vivas algumas pessoas que passaram por mim, o que é muito pior. Fui enterrada viva após o silêncio profundo de uma pessoa. Deixei de existir depois que falei o que sentia. Uma longa carta não respondida me fez desaparecer e morrer (para todo o sempre) da vida dessa pessoa. Me sinto morta porque não existo mais na vida de alguém. Se aperta a tecla delete e adeus... Morri um pouco. Sou uma pessoa que se funde às atmosferas, por isso a tristeza; embora precisasse morrer. E já abandonei tanta gente pelo caminho apertando a mesma tecla; para esses eu peço o mais sincero perdão. É que não sabia como é morrer para alguém que se teve carinho.

biografia

Alguém que escreve uma biografia. Alguém que faz da vida de outra pessoa "fábula com carinho". Congela as melhores histórias, os fatos marcantes, as excentricidades do ser (amado) retratado. Alguém que organiza em capítulos o que foi uma dia a construção (acidental) espontânea da vida de determinada pessoa. Alguém que se dedica a pesquisar vida alheia. Trabalho de detetive, transformando em enredo circunstâncias propostas.
Mas em biografias se esquece o dia chuvoso, o não fazer nada, o band-aid usado com a sapatilha que machuca, a indisposição alimentar, o banho do dia a dia, o lixo da cozinha, o prazer entre as cobertas. Porque o que fica em biografias são os rastros autorizados ou a percepção de quem rodeia o ser ilustre. Mas a alergia à certos medicamentos, o soluço e o engasgar não são relatáveis e fenecem pelos cantos.

Esse texto é parte da minha frustração por não conhecer plenamente a alma de um ser querido após inúmeras biografias.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

caderno de perguntas

1) Ando com perguntas na cabeça. Perguntas pra entender o mundo. Perguntas necessárias para redescobrir-me depois que abandonei o que era um fato.

2) O fato não era fatal.

3) É engraçado deixar morrer alguma coisa que sempre julguei o fator estruturador da minha personalidade, a viga central. Essa coisa morre e se continua ali... quase firme. É como gosto de felicidade em casa nova: sem quadros e móveis, mas pronta pra ser decorada e habitada.

4) O "caderno de perguntas" - vou preenchendo o caderno, respondendo à perguntas que definam quem sou.

5) É só seguir a risca o número que aparecer para mim e ir detalhando o que me faz contente. Muitos outros já responderam e eu posso ler as escolhas deles.

6) Sou o n° 17 e revelo que gosto de sorvete de pistache e de sorvete de café, minha cidade preferida não existe mais... já foi Salvador, já foi Roma, hoje não sei. Ainda prefiro o calor ao frio, o verão ao inverno.

7) Mas algo muito forte mudou e quando aparecer a pergunta de n° 641, talvez eu possa responder se ainda engano meus sentidos ou se realmente aprendi a gostar do desengano.

dourado e azul escuro

Francesca abriu a porta e viu o que havia lá fora: uma escuridão de noite fria. "Amanhã haverá sol" - pensou. A noite estava tão cheia de estrelas que quase se via a Via Láctea - "um caminho esbranquiçado como leite", como dizia seu livro de ciências. Entrou no carro e colocando as mãos no volante gelado, lembrou do que sonhara. O que mais a impressionara no sonho fora a riqueza de detalhes com que aparecia seu porta níquel. E ela lembrava especialmente desse momento do sonho: pegava moedas para pagar qualquer besteira que mataria sua fome. E o objeto aparecia: azul escuro, em forma de dobradura, com estrelas douradas na parte superior, feito em couro por algum marroquino. Era o seu porta moedas anunciando o céu gigante de estrelas que ela veria quando abrisse a porta. Talvez o marroquino, numa noite como essa, tenha talhado de ouro aquele couro e registrado o que o olho dele via.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

identidade

A menina fazia perguntas comparativas, sempre! Entendia o mundo apaixonadamente, dando valor afetivo às coisas e às pessoas. Sua mãe, por vezes entediava-se diante do interrogatório a que era submetida. Sua forma de entender às pessoas vinha das escolhas que o interrogado fazia. E disparava questões: "Você gosta mais de azul ou de verde?", "Macarrão de letrinha ou redondinho?", "Praia ou campo?", "Março ou novembro?", "Quem você acha mais bonito: Kleiton ou Kledir?", "Bolo de cenoura ou de chocolate?". Escolhendo respostas para satisfazer sua filha, a mãe refletia sobre si mesma. A menina cresceu e as perguntas apenas sofisticaram-se, "François Truffaut ou Jean Luc Godard?", mas continuaram. A menina muito cedo aprendeu a "ser alguém" buscando no mundo lá fora tudo o que ressoasse o mundo do aqui dentro.

domingo, fevereiro 14, 2010

auto-retrato no quintal

sábado, fevereiro 13, 2010

carnaval

No carnaval sempre tenho a sensação de que o mundo inteiro se diverte, menos eu. Talvez pela obrigação de felicidade que a data exige, talvez por não suportar a idéia de intensidade condensada; o fato é que no carnaval me sinto extremamente paulistana. Enquanto os outros jogam serpentina e o mundo se exacerba, a data me traz um desejo enorme de ficar na minha. Quietinha. Queria eu gostar de carnaval e entrar em sintonia com a maioria, vestir a fantasia... Mas minha vida de atriz já me deixa brincar de ser um outro no dia a dia. E, escorpiana, carrego sempre nas cores com que pinto esses dias... por isso, talvez, no carnaval eu fique cinza como o céu da minha cidade.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

membrana

Aquela mulher tinha as mãos finas. Mãos macias de pouco uso doméstico. A tinta do esmalte durava muito nas unhas daquela mulher. Ela não era dessas mulheres que não faziam serviços de casa por pura inconsequência ou futilidade; tinha a sorte de nunca ter precisado fazê-los... Alguém sempre os fazia por ela: de empregada doméstica ao próprio marido. Era uma mulher que passava longe do cloro, escovão ou sabão em pó. Também não tinha talento com a jardinagem, as plantas acabavam morrendo se fossem responsabilidade dela. Não sabia como regá-las e acabava por reunir todos os vasos no quintal para que a chuva se encarregasse de molhá-los.
Já disse que era uma mulher de unhas feitas. Era, também, uma mulher que cheirava bem, perfumada, engomada.
Mas essa mulher havia de comer feijão todos os dias! Se esquecia dos grãos, do ferro de cada dia, seus pés desprendiam do chão e, essa mulher, saía voando. Quem a via condenada de tal forma ao feijão, entendia que os gestos delicados daquela mulher não se tratavam de frescura; eram condinação da vida etérea a que ela pertencia. E olhando atentamente a mulher, o coração se enchia de dó e de respeito.

sábado, fevereiro 06, 2010

eu passarinho


Amo a palavra pássaros. Passarinho fica ainda mais bonitinho, leve e fugaz. Pajaros, pajaritos. No dia de hoje, pousando perto de mim, parecem que existem apenas pra me deixar feliz. E eu, existencialista, devolvo minha frase preferida, "eu passarinho".

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

eu por Renata Velguim

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

livro

Quando eu era criança, tinha a certeza de que as personagens dos livros depediam da minha leitura para existirem. Se por acaso passava mais de dois dias sem voltar ao livro, a situação me afligia por deixar suas criaturas presas ao contexto daquele capítulo. Era como se elas existissem e a minha não leitura prendia suas vidas ao momento em que eu parasse de ler. Imaginava suas vidas altamente sacrificadas e sem graça por culpa minha. Quando acontecia de não engatar a leitura, uma culpa enorme pairava sobre mim: sofria pela prematura morte de tédio que acometeria meus heróis.
Mas o melhor da minha infantil vida de leitora era a sensação de completude que cada livro me trazia. Vivia plenamente num outro planeta,em outro contexto por algumas horas do dia. E daí, a vontade de encontrar o livro e saborear uma outra vida me enchia de entusiamo.
Até hoje me sinto assim, plena quando esse tipo de encontro acontece. Quando ler um livro se parece mais com viver um livro.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

cadeiras

Sentada na cadeira que vale 600 reias sem um tostão furado no bolso.
No quintal, a velha cadeira de palha desmoronou; perdeu a cor e derrubou a última pessoa que ousou sentar por ali.
O casal usando uma única cadeira, um no colo do outro, quebrou o assento preto de pano.

Bob Wilson faz coleção de cadeiras e eu também gosto delas. Cadeiras parecem gente e às vezes padecem.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

ponto final

um pequeno amor

A menina percebeu que aquele beijo não era seu. Gestos, palavras, olhares e apelido carinhoso não eram dela e nem eram pra ela. Eram pra qualquer uma. Qualquer uma que coubesse na agenda compromissada dele, qualquer uma que quisesse ouvir de perto a voz melodiosa daquele homem. Ela, então, entendeu: alguns homens sofrem de amor a si mesmos. E um homem assim jamais poderia ser seu. Seu amor era religioso e devocional. Foi o último capítulo de uma história longa e difícil, com um final travestido de infeliz ( porque era um presente livrar-se de um romance assim). Agradeceu um pouco doída, peito ainda apertado. Iria passar. E ainda havia o grande salto a se dar - para bem longe do homem de palavras e poesias fáceis.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

2 ou 1

Quando parece que se esgota o que se pode saber de outra pessoa, quando se conhece cada poro de determinada pessoa, quando se sabe o número de linhas que a testa dela enruga para exprimir cada sensação, quando se conhece o cheiro do outro ( e se reconhece os passos desse outro pelas narinas - como faro de cachorro ), quando não se sabe mais se é você ou o outro que gosta de adoçar com mel o café com leite, quando se olha nas prateleiras e não se lembra mais de quem era determinado livro em vida de solteiro, quando seu corpo se ergonomiza ao sono do outro, quando o sapato largado no chão vira armadilha fácil e irritante, quando o espelho amanhece escrito de lápis de olho azul brilhante como presente de amor, quando as escovas de dentes amanhecem juntas, quando se divide IPVA e IPTU, quando o Natal é fracionado entre famílias, quando tudo isso acontece e ainda assim... - o grande susto - SE NOTA O OUTRO COMO OUTRO ( diferente e independente de você ). E se experimenta o amargo - o grande trote - porque te ensinaram errado: a gente é um, embora queira ser dois. E de repente o amargo se atenua porque a sensação de ser um só, livre e original, se torna doce.