sábado, dezembro 22, 2007

crua

Hoje acordei como quem pede missa. Pra que silêncio possível, se o que quero é o silêncio impossível? Aquele silêncio que muda o significado das coisas e faz do calor, frio. E do frio, chocolate quente para suavizar a vida da gente. Difícil mesmo é acordar e ser firme, viver sem chocolate quente. Desiludir frente aos iludidos e esse mundo de ilusões. Meu lugar é onde a vida é de verdade e a gente sabe que vai morrer. E viver fica finalmente colorido, vira filme de aventura com direito a beijo de amor do mocinho e letreiro com o nome meu.

rascunhos

Pode deixar que eu conto. 05:33:00
Eu vi um espetáculo que falava dela. 02/12/07
Buena dicha. 21/07/07
Comprei um chapéu vermelho no centro da cidade. 04/03/07


quarta-feira, dezembro 05, 2007

canção dos 17

Cheguei ao início da noite de hoje como criança que precisa gastar energia. Só então saí a rua e percebi que meu corpo pedia movimento, pedia olhar e ser olhada. Andando pelas ruas revivi minha canção dos 17 anos. Lembrei de um tempo em que era apenas olhar para um outro, que já queria ser esse outro de tanta compaixão que sentia pelas pessoas que me eram estranhas.
Hoje precisando gastar energia fui me consumindo e querendo dançar no corpo dos outros. Lembrei da minha canção dos 17 e de como comemorei meu aniversário de 17 anos no dia 17. Lembrei que meu pai me deu 17 rosas vermelhas. E de como eu não queria que meu namorado de quando tinha 17 anos, estivesse presente na minha festa de 17 anos. Não cabia um outro homem senão o que me salvaria, o que me redimiria. Mas ele foi, comeu um pedaço do bolo de maracujá e não me redimiu. Ainda hoje acredito que um homem me redimirá. Sei que não é possível, mas lá bem longe onde meu peito canta a minha canção dos 17 espero o meu salvador.
Hoje precisava gastar energia como cão que fica trancafiado dentro de casa. Saí a rua e meu maior ato de violência possível foi pisotear uma bexiga branca que estava abandonada na rua.

sexta-feira, novembro 30, 2007

sobremesas afetivas

Minha nova vegetarianice compreende uma árdua batalha contra um dos maiores venenos que a humanidade já foi capaz de inventar, o açúcar! Entre o ser ou não ser doce e uma dentada num bolo de chocolate, parafraseio a famosa frase de Clarice: Mas já que se há de evitá-lo, que ao menos não se esmaguem com dietas as sobremesas afetivas.
Porque pudim de leite e pinholata são fundamentais! Parte do meu legado familiar e ninguém faz como elas.
Lambuzarei meus dedos e minh' alma com prazer e devoção! Amém avós! No Natal me permitirei ter esperança e um gosto doce na boca. No dia em que o Cristo nasceu a esperança de amor e paz entre os homens se renova também, e é doce como doce de vó.

clarice lispector

"Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

quinta-feira, novembro 29, 2007

vale a pena

É lindo, lindo, lindo.
Clique e assista.

domingo, novembro 25, 2007

água viva

Desde pequena causava inundações. Esquecia a torneira ligada e inundava o apartamento do sétimo andar para desespero de sua mãe e do vizinho do sexto andar. Eram constantes rodos, panos e baldes a apagar vestígios de seu samsara infantil.
Cresceu e foi morar numa casa amarela. Os três primeiros anos de morada foram repletos de acidentes que destruiram pintura de parede e a estante de livros: era a chuva que furava a barreira das portas e alcançava o interior da tal casa amarela, a banheira que vazava água pelos azulejos, o filtro de água que fazia música com o respingar das gotas, além das infinitas mangueiras quebradas pela violência com que a água pedia pra sair naquela casa.
Nos últimos tempos, como se não bastasse, deu pra sonhar com alagamentos. Sonhava que vivia numa terra-oceano, onde em horror e devaneio sua pele virava escama. Acordava assustada e ia tomar banho. Limpava com dedicação cada pedacinho de seu corpo. Tomava então um copo d' água e tentava desesperadamente voltar a dormir.

Esse quase-conto não tem fim porque essa mulher sou eu. E acaba de acordar de mais um aguaceiro. Clamo por ajuda e peço auxílio dos bombeiros pois o homem que dorme ao meu lado, o mesmo que um dia em criança quase incendiou a área de serviço do apartamento de seus pais, sonha nesse instante com chamas e labaredas.

domingo, novembro 18, 2007

prosopopéia

Hoje, ela me pediu forte e urgentemente que a lesse. Abri numa página qualquer rogando salvação. Ela, então, me jogou uma sentença e me alertou para o quanto se pensa em dia de casa vazia. A casa está vazia, tem restos do almoço de ontem. É necessário vigília.

adolescentes

Ele: Me conta um segredo seu?
Ela: (risos). Acho que não tem quase nada meu que você não saiba. Sem graça, né?
Ele: Dúvido.
Ela: Hum...
Ele: Vai.
Ela: Já sei.
Ele: Conta!
Ela: Era dramática quando pequena, me escondia na cozinha pra experimentar me matar com faca de requeijão.
Ele: Ninguém experimenta se matar. É mata ou não mata.
Ela: Eu experimentava, não era uma tentativa séria e nem eu era uma criança suicida. Porque a gente é da vida, né? Mas queria ver o que aconteceria se eu morresse.
Ele: Mas você não morria e o que acontecia?
Ela: Ficava com medo de mim.
Ele: Eu sempre me imaginava morto. Me via no túmulo e toda minha família ao redor chorando por mim.
Ela: Quando eu tava na quinta série, minha amiga Júlia sonhou que eu morria e que só ela ia no meu enterro. Nunca esqueci disso.
Ele: Nunca tentei me matar e acho esse tema cansativo. Viadagem.
Ela: Mas tem gente que sofre de verdade.
Eles: (silêncio)
Ela: Agora você, um segredo que eu não saiba.
Ele: De verdade? Você vai achar que já disse isso mil vezes e que não é segredo, mas desse jeito crescente...
Ela: Fala.
Ele: Eu te amo e é agora.

quinta-feira, novembro 15, 2007

.

O resto é ponto final.

cravou o punhal no coração do inimigo

Já dormia aquele meu sono esquisito, aquele que todo dia antecede a chegada dele debaixo dos lençóis. Ele então, em segredo nosso, fez um pacto comigo.

Então, sonhei que retornava a minha terra natal e que lá, em praça pública, travava um duelo de facas e lanças. Eram 2 contra 2. Um homem estava ao meu lado e lutava comigo contra aquela espécie de coronel do agreste, acompanhado de seu capanga. Era agressiva. Tinha medo e coragem. Matava aquele bicho-homem que me acompanha só por me chamarem como me chamam, Gabriela. E ter o cheiro de cravo e a cor da canela.

terça-feira, novembro 06, 2007

dengo

Hoje você fez visita num sonho que era só meu. Mas depois me lembro que você sou eu e que em algum momento colei meu peito ao bater do seu. E se você sou eu, e me relembra ritmo e harmonia de querer bem, hoje sonhei comigo e me amei feliz.

sábado, novembro 03, 2007

déjà vu

Então viver era isso, um grande esquecimento! E o desafio estava dado, lembrar-se de quem se era.

sábado, outubro 13, 2007

borgia

A autora deste blog viaja por tempo indeterminado. Certa de seus passos vagarosos e incerta de por onde esses passos caminharão; escreve neste espaço quando seu peito e sua inteligência, muito solicitados esses tempos, permitirem digestão e alguma inspiração daquilo que seus olhos vêem e seus ouvidos escutam. Manda lembranças da terra de Borgia, paesino descoberto e explorado pelos gregos antes mesmo da antiga Roma, solo encantando e povoado pelos seres mais solicitos que já pisaram nesta terra de meu Deus. Grata e feliz, agradece aos que aqui já passaram, passam e passarão. Breve escritos se farão. À presto,
Gabriela mais Cordaro do que nunca.

terça-feira, agosto 28, 2007

o pé

Quero que cuides de mim como quando cuidou daquele pé de feijão nascido em algodão, lembra? E como esperou que ele crescesse para levá-lo à escola em copinho de café e, depois, deixá-lo timidamente na mesa da professora! Luxo é se tratar como coisa que cresce e se alimenta em água e algodão.

carandage

A menina e sua caixa de lata com lápis aqurelado. Infinitas cores.
Uma vez um homem bronco olhou a caixa e, com desdém e mau humor, fez pouco das cores e dos lápis da menina: "Pra que tantos, uns 10 lápis já nao seriam suficientes?". A menina não gostou e saiu de perto daquele homem. Muitos anos depois, a resposta se faria e engasgada sairia do coração da menina: "Servem para pintar os campos de girassóis e trigo de Espanha. E a matiz é aquela que vai do verde ao amarelo e são infinitas as delicadezas de cores de campos tão áridos e a possibilidade de brotar coisa mais viva como um girassol".

Para minha irmã Juliana, com amor e saudade.

segunda-feira, agosto 06, 2007

brahma, vishnu e shiva

A cada passo construo a pessoa que quero ser. A verdadeira essência é criação, atitude e mudança.


Sevilla. Plaza de España.

quarta-feira, agosto 01, 2007

requena

Aqui permaneces e permaneço. Tudo me foi guardado. Arquitetura sagrada que me leva a abrir as janelas para a luz forte que bate aqui. Estou preparada, podes vir. Agora já sei de onde vim.

duende

De repente me lembro de quem fui. É que a vida deixa pistas nas vistas de outros tempos. Meu nome estava gravado em árabe antigo pelas ruas daqui. Esperava minha visita para que o tesouro fosse redescoberto. Aqui estou.

maktub

Se um dia não souber pra onde ir, já tenho Granada como cidade minha.

recuerdo

Achei minha alma que estava perdida em Granada. Vagando por dias e noites, minha alma ansiava pelo reencontro com esse meu corpo de agora. Como criança que foge com o circo, abandonarei tudo para dançar nas ruas de Albaicin.

domingo, julho 29, 2007

gaudi

A próxima palavra é uma curva.

domingo, julho 15, 2007

o que tinha de ser

Entre a fraqueza e o mal estar reside minha grandeza. Acobertada e escondida pelo medo de ser exatamente do tamanho que se é.

véspera

O que se faz enquanto se espera algo que sabes grandioso? Cada minuto que passa vou deixando para trás o que não poderei levar comigo. Desculpem pela falta de despedida, mas como ela me disse outro dia: a gente não precisa se despedir daquilo que é nosso. Isso fica com a gente pra onde se for e pra o que se vier a ser.

sexta-feira, julho 13, 2007

intensidade

Era tanto amor que, em devaneio, entrou no chuveiro de meias nos pés.

quinta-feira, julho 12, 2007

obrigada

Giulinha voltou pra mim!

quarta-feira, julho 11, 2007

triste

Giulinha, volta pra mim!

segunda-feira, julho 09, 2007

"torvelinhai, torrentes do ar"

Oh, torvelinho de idéias! Faz da imobilidade lugar pra vendaval. Pirraceiro, contradiz minha nobreza. Foges da calmaria, preferes pão e cheiro de café.

domingo, julho 08, 2007

cor-de-rosa antigo

Percebeu que, por pura falta de entendimento, prendeu a alma de uma pessoa à sua vida. Era novinha e aprisionou a alma de um homem à sua. Julgava que ele fosse seu. Não era. Era outro o seu homem. Escreveu, então, um bilhete. Dobrou-o bem dobradinho e deixou-o no banco do metrô.
Mais tarde alguém lia:

"Te liberto para seres o que és. Exatamente do teu tamanho. E desejo sorte".

De qualquer forma a mensagem teve serventia.

sexta-feira, julho 06, 2007

teste

Era uma vida sem volta. Cada escolha, um salto pra novidade.

Era uma vida de ficar esquecido no teleférico no meio da neve como uma vez me contaram. A neve cortava seus lábios ressecados e o teléferico se fazia parado para que uma atitude fosse tomada. Era um salto sobre as montanhas geladas. O risco de cair num pedaço de rio congelado e se tornar geleira para todo o sempre. Era como encontrar um alfinete no fundo da gaveta quando se precisa dele, essa era a vida daquele homem.

Esquecido no teleférico, esquecido no dia-a-dia. Como se com esses pequenos e fatais acontecimentos, ele tivesse que lembrar à natureza a todo instante que também existia. Existia e sua trivialidade se fazia de dias extraordinários. A inconseqüência era comum a ele, mas ele mesmo não era inconseqüente.

Como se ali, parado e quase congelado, tivesse que provar e merecer sua existência. Seus dias eram de encontros perigosos com leões ferozes a toda hora. Sabia manter a calma, não se assombrava, tudo aquilo fazia parte de sua condição nunca antes imaginada.

Ali, sozinho, a escuridão chegou. E a neve, cada vez mais espessa o provocava para que fizesse alguma coisa. Ele fechou os olhos e se preparou para saltar em direção ao inesperado.

Do céu se ouviu então uma imensa gargalhada de um deus gordo e espirituoso. E a noite se fez dia e a imobilidade do teleférico se fez movimento. Agora, deus celebraria seu filho com uma grande taça de vinho.

quarta-feira, julho 04, 2007

um pouco mais

Bem vindo mês de julho. Nós faça felizes!

método

Por um lapso não conseguia lembrar se havia tomado o remédio. Não teve dúvidas: abriu a tampa, despejou as pílulas uma a uma e contando quantas ainda haviam entendeu o acontecido.

segunda-feira, julho 02, 2007

omaggio

Bandiera nera la vogliamo: No!

Perché l’é il simbolo della galera

Bandiera nera la vogliamo: No!

Bandiera bianca la vogliamo: No!

Perché l’é il simbolo dell’ignoranza

Bandiera bianca la vogliamo: No!

Bandiera rossa la vogliamo: Si!

Perché l’é il simbolo della riscossa

Bandiera rossa la vogliamo: Si!

Para meu pai que tanto dançou com suas filhas essas inesquecíveis canções italianas.
Avanti popolo alla riscossa!

sábado, junho 16, 2007

mentora

Mas fala comigo e me leva pro abismo. Não ligo. Vem, aparece e mexe com tudo o que outrora foi construido. Deixo você falar por minha boca. Deixo que as árvores caiam e a tempestade derrube o que tem que cair. Agora assim acordada, não tenho medo. Vem e me mostra teu machucado: tiramos o espinho uma do dedo da outra. Chupo teu sangue com amor. Te espero com rosas cor-de-rosa e suéter vermelho. Até pinto a boca de batom escarlate - você vai rir porque nunca soube falar com a boca pintada de batom. Vem que te faço sopa de beterraba - estou craque no trato com a panela de pressão - e só tomaremos meia porção. Pode entrar pela fresta da janela que agora sem medo, eu te espero. Sei que tua tristeza era das mais felizes.

o livro das mutações

De verdade, há o caminho do meio. Perceber é fácil, difícil é ter coragem de segui-lo. E saravá.

sexta-feira, junho 15, 2007

nome duplo

Mas se para ser um é preciso ser tantos, me faço pássaro e cavalo. Pluralizo a mim mesma para ser realmente singular.

criança

Ela tinha razão: não era celular, era passarinho!

argila

Quando viu estava entre eles. Jogada na terra, rastejava. Suas mãos acariciavam o barro, seu rosto pedia para que se pintasse de terra. Brincava com formigas, tatu-bolas e minhocas. Uma música a levava até o chão. Entendeu: era cobra, lagarto, chã-de-dentro e chã-de-fora.

segunda-feira, junho 11, 2007

11 de junho

Hoje é aniversário deles. Servirei atum. Para beber, um pouco de leite fresco. Deixarei que afiem as unhas no sofá e saiam um pouco pra passear. Não pude dar-lhes o presente que me pediram, seria cruel e, além do mais, não posso ver sangue.

par

Ele gostava de falar. Ele lia, lia muito e falava sobre os livros que lia. Ele via, via filmes e falava sobre os filmes que via. Ele ouvia, ouvia músicas e falava sobre as músicas que ouvia. Ele praticava, prativa esportes e falava sobre os esportes que praticava. Ele era só.
Ela era só. E sabia que os ouvido são onipresentes. Ouvidos não têm escolha, não se fecham como os olhos ou como a boca. Então, ela ouvia. Ouvia sobre livros, filmes, músicas e esportes.
Eram a perfeição.

verbo

Sou e estou. Não ao mesmo tempo. Ser é consistir. Estar é circunstância. Gosto de sentir na língua a possibilidade de transformação: não sou, estou.

sexta-feira, junho 08, 2007

corpo do texto

Toda palavra é gesto. E frases, passos de dança.
Quero escrever como quem dança e dançar como quem escreve.

terça-feira, junho 05, 2007

"acordei que sonhava"

Leu que para os hindus, o universo é o sonho de Deus. Ele o está sonhando e nós somos parte do Seu sonho. Então era isso, ela não passava de imaginação! Olhou para cima e pensou toda cheia de si: mente criativa a do Senhor.

segunda-feira, junho 04, 2007

carta a uma pessoa querida

Aqui o amor se faz causa e conseqüência. Aqui amar é telepatia e ideologia. Amou fulano, cicrano, beltrano. Amor, aqui, não é vermelho; é lilás. Há algo de apaziguado nesse amar. Não sabe viver se não for para derramar seu amor. A liberdade já chegou, mas ela não sabe o que fazer com ela. É liberdade demais não precisar cuidar de ninguém. É liberdade demais cuidar de si. O luxo da solidão está pedindo pra entrar. Ela abre a porta com um pouco de receio ainda. É tão grande e tão linda que pode ser muito para ela. Um grande susto! É perigoso: de repente ela se vê e descobre o mundo. Aliás, a sua volta todos já perceberam e esperam dela brindes e fogos de artifício. Mas calma lá minha gente! Há dor também e é imensa. Há medo e há uma criança frágil que ouviu histórias demais e se assusta com o sobrenatural do que se conta. Ela precisa de colo e precisa se dar colo. Agora é ser inteira e assumir que às vezes a gente assusta e pisa na ferida dos outros e não tira o espeto da pata do urso. Todos esperam muito dela. E eu sei que ela é muito mais do que qualquer pensamento possa conceber: é muito maior e muito menor. É riso. É lágrima. Força e melancolia. Há uma parte dela com vontade de nascer e há outra que tem medo do que possa vir. Mas o primeiro sim já foi dado. E se seguirá de tantos sins e tantos nãos hão de vir. Doa a quem doer.

intrépido garçom

Ele arriscou seu emprego para me dar um bolo de banana. Furou o bloqueio das iguarias, burlou seu chefe e trouxe a minha mesa o lindo pedaço. Corajoso, agiu com o coração. Tudo para que eu não pagasse o abusivo preço do buffet. Merci mon garçon! Je ne vous oublie pas!

journey in satchidananda

Hoje deixei de ser peixe e pássaro e voltei a fazer escavações. Agora me aventurarei no reino das letras e das flores de lótus. Lembrei o caminho de casa. Quando quiser faço visita.

sábado, junho 02, 2007

menina azul

Do outro lado do mundo vive uma menina-azul que vê o mundo com olhos que até poderiam ser meus.
É só clicar que ela aparece.

impressionismo

Era uma história tão perfeita que não cabia impressão dentro dela. Estava tudo ali, pronto e acontecido. Já era fantástica na sua realidade. Havia nela os encantamentos que a imaginação cria e tinha até senso de humor. Tão estupidamente boa que não tinha graça em se transformar em escita com ponto, vírgula e final surpreendente.

sexta-feira, junho 01, 2007

minha avó é uma sereia

Ela era cabeleireira e também é minha avó. Morávamos bem pertinho. Prédios colados que facilitavam a livre expressão de nossas hereditariedades italiana e espanhola: quando queríamos falar uma com a outra era só ir até a janela e gritar sonoramente uma pela outra.
Ir a casa dela era fácil e eu adorava. Podia chegar lá sozinha sem interferência de pai ou mãe. E passava lá quase todas as tardes. Ela deixava (e ainda deixa) que eu mexesse em suas bijuterias, perfumes e, por vezes, até abria seu território sagrado, onde ficavam muito bem guardados os casacos de pele de minha bisavó.
Minha Julieta (esse é o nome dela) é das pessoas mais vidosas que conheço e quando minha mãe era pequena, era dona de um salão de beleza que funcionava em sua própria casa mesmo.
Nas tardes em que passavamos juntas, vez por outra, ela pegava a tesoura e cortava um pouquinho meu cabelo. Minhas visitas eram frequentes e para desespero de minha mãe, os cortes também! Uma franjinha aqui, uma costeleta acolá, uns três dedinhos a menos, um curto radical e minha vida capilar era a mais movimentada dos meios infantis por onde andava.

o certo é ser gente linda e cantar, cantar, cantar

Om namah shivaya

quinta-feira, maio 31, 2007

breve saberás

Um pé que me leva pra onde quer, outro que me tira do chão. Sigo os sobressaltos da vida sem muito planejamento e com um pouquinho de vertigem. Surpresa inesperada que me leva pra onde eu queria e não sabia.

ilustre (des)conhecido

Entramos no mesmo vagão. Mesmo de costas um para o outro, nos percebíamos ali. Sabia exatamente como eram seus traços e ele conhecia os meus. Sem ao menos nos olharmos de frente, eramos como irmãos separados no leito materno. O momento do meu desembarque chegou. Ao sair dali sentia que seus olhos acompanhavam meu caminho. Olhei pra trás e lá estavam eles: os dois olhos verdes, que conhecia muito bem sem nunca tê-los encarado antes, acompanhavam minha saída. Sorrimos um para o outro e nunca mais nos vimos.

ilustre desconhecido

Queria ver seu rosto. O rosto dele ficou por detrás da árvore e meu carro passou.

segunda-feira, maio 28, 2007

experimento cientifico

Se eu tirar o que me identifica o que é que fica? Se sai a profissão, o medo, a ansiedade, o que é que fica? Se deixar de tomar leite com café toda manhã e comer pão com requeijão, se sumir do mapa e desligar o telefone; o que fica? Se quando andar na rua não desviar dos bueiros e não tocar nas flores vermelhas que parecem pom pom de team leader, o que fica? Se parar de gratinar a abobrinha, o que fica?

Rasgada assim, gosto do que vejo.

sábado, maio 05, 2007

tropeço

Cansei de moral da estória. Alguém acredita nisso depois de Nasrudin?

quarta-feira, abril 18, 2007

dona benta

Elas estão ali. Cheias de palavras para fortalecer gente grande: são as amigas da terceira idade, que juntas, se divertem. Dividem experiências culinárias e frases de livros de auto-ajuda. São irritantes. Esbanjam suas felicidades desafinadas. Ali, bem perto de mim, com suas caras de pó-de-arroz, a ironizar minha feminilidade ansiosa. Depois do nosso breve encontro de elevador, as três seguirão contentes a perfilar seus lares de toalha de renda. Invejo a hora de almoço delas e o descompromisso com a humanidade que elas têm. Queria eu poder, de vez em quando, esconder minha aflição em prendas domésticas. E só me preocupar se o frango ficou bom ou não.

Amigas, sei que vocês também são aflitas e que às vezes o frango queima também.

sábado, abril 14, 2007

norma jean baker

Despreparo.
Falta de habilidade.

Ofereço dúvidas.

Este não texto tem vontade de se expor. Obedeço. Mas peço desculpas, porque ainda quero que gastes teu tempo comigo. Minha fragilidade se faz e desfaz em desculpas. Na verdade, queria mesmo ser Marilyn Monroe.

Embora saiba que mesmo Marilyn, era no fundo Norma Jean Baker.

domingo, abril 01, 2007

perna curta

MENTIRA

quarta-feira, março 21, 2007

manoel de barros

"Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução".

cuspirei sangue

Vou roubar um acontecimento. Furtarei um fato da vida de outra pessoa: vou pegar, morder, moer e jogar o resto fora. Vou pisar, chutar e cuspir no que não me servir. Não me engasgarei mais, cuspirei sangue. Sem piedade ou autocomiseração. Vou furtar gestos, palavras, fotos e lembraças. Vou amar o marido das outras. Pisarei em todas as amantes. Sacrificarei meu semelhante por um anel de ouro ou diamantes. Passarei nota falsa. Venderei gato por lebre. Serei a rainha dos inescrupulosos. Passarei a perna em todos os meus. Distribuirei rasteiras. Atropelarei velhinhos. E finalmente, ficarei devendo na venda.

agridoce

No rosto uma enorme cicatriz. No peito a bandeira do Brasil. Usa uma capa dessas de farmacologista, nela está escrita uma frase de parachoque de caminhão; algo como, "miséria boa é miséria de pobre". Nada de "eu amo minha mulher", o tom é outro. Nas mãos uma serra elétrica. O avental está sujo de sangue. Há suor em seu rosto. Seu cheiro é ruim. É sujo. É feio.

Já foi, e ainda é, em parte, bailarina de bolo de aniversário. Mas a bailarina segura, lá no fundo, uma serra elétrica que tira sangue de quem passar pelo seu caminho.

quinta-feira, março 15, 2007

rastreada por satélite


sábado, março 10, 2007

aurélio

Obrigada Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, por dar signo à minha vida!
Tantos significados bonitos! Torpor, por exemplo, pode significar "indiferença ou inércia moral" e ainda "ausência de resposta a estínulos comuns".

Aurélio, i love you!

Acordava angustiada. Sofria de nó na garganta pela manhã. O mundo era muito coberto para uma pessoa como ela. Vivia a crueza dos virados do avesso. Um gesto, um passo, tudo tinha que ser muito bem pensado. A vida para ela era fatal. Escolher não era um ato aleatório. Um passo em falso e o nó aumentava. Lavar a louça ou sair pela rua? Não vivia impunemente, seus atos eram experiências. Tinha de negociar com Deus, pedia para viver à prestação.

quarta-feira, março 07, 2007

não sei

Será que algum dia saberei dizer "não sei" como ela dizia?
Um "não sei" sem olhar para trás e sem medo do que um "não sei" possa causar.

terça-feira, março 06, 2007

breve bem próximo de mim


segunda-feira, março 05, 2007

giuseppe

Ele que nasceu na cidade de Borgia e veio parar no interior de São Paulo. Ele que não conseguia falar português e por isso ficava quieto. Ele que nasceu no mesmo dia que eu. Ele que é meu bisavô. Dele é tudo que sei.

cabeça feita

Saimos na rua e compramos chapéus. Eu, um vermelho escarlate para andar distraída; ele, comprou dois, um para sair por aí e outro para abraçar o mundo.

o homem mais misterioso do mundo

Meu avô falava pouco. Minha maior recordação dele é que tudo e todos paravam para que ele assistisse Charlie Chaplin na televisão.
Logo descobri que gostar de Chaplin era uma maneira de me aproximar dele, então ria alto com as trapalhadas de Carlitos para que todos, e principalmente ele, soubessem que o programa também me agradava.
Lembro que no último Natal que passamos juntos, ele rompeu a barreira de seu solene silêncio, e dançou break por horas a fio.

Detalhes que contam quem era meu avô: ele tinha um despertador vermelho e uma estátua de um menino jornaleiro, não tirava seu roupão azul-marinho, torcia para o Palmeiras e desenhava muito bem.

Minha avó fazia deliciosas comidas para festejar meu avô. Íamos sempre almoçar na casa deles e para beber tinha sempre água tônica, que eu detestava e achava uma bebida fracassada. Meu pensamento de criança não concebia que um quase-refrigerante-de-adulto fosse tão sem graça e sem gosto!
Um dia, numa manhã de final de semana, meu pai chegou abatido e disse que o "vovô Tó" tinha morrido. Ouvi a informação sem muito entender e voltei a brincar. Só que a partir daquele dia, a brincadeira mudou, brincava de procurar meu avô pelas ruas por onde passava. Nisso não havia morbidez, era um pensamento simples e objetivo: precisava encontrar meu avô que tinha desaparecido. E nessa procura havia o pragmatismo de uma criança com um forte objetivo.
Só o encontrei anos mais tarde reassistindo aos filmes de Chaplin. Aliás, tenho até hoje a sensação infantil de que meu avô é o próprio Charlie Chaplin.

domingo, março 04, 2007

anunciação

Acontecia toda vez, um quase acidente sublinhava detalhes de sua vida que anunciavam coisas futuras. No momento em que os vivia nunca os percebia, mas anos ou meses depois o rastro era revelado.
A rua de sua nova casa era casualmente a mesma em que, sete anos antes, quase fora atropelada.
Outra vez ficara presa num elevador por mais de duas horas. Um ano depois aquele mesmo elevador tornou-se trivial, o meio de chegar ao apartamento 51, onde morava M. P.
Um dia teve uma vontade repentina de comprar um cacho de bananas na Rua do Ouvidor. Essa vontade soou-lhe estranha, morava sozinha e jamais conseguiria comer tudo aquilo. Com a carteira na mão, prestes a pagar pelo cacho, foi roubada. Teve medo; percebeu o que ocorria.
A partir daquele dia, toda vez que passava pela Rua do Ouvidor, observava cuidadosamente o chão por onde seguia e desviava com destreza de cascas de banana.

sábado, fevereiro 17, 2007

definitivo

O último que vi e melhor cartaz sobre o homem: "Acredito em Deus e na justiça brasileira".

sem preconceitos

Na rua vi escrito, "Jesus: católico ou evangélico".

do grotesco ao sublime

Vi uma senhorinha de meia de naylon, muito velhinha e feliz, distribuir sorrisos e folhetos de planos de saúde.

intervalo

Tanta ação no dia-a-dia me deixa sem inspiração. Como cavalo aparementado só sei olhar o que está a minha frente. Sou segmentada. Para dizer um sim, digo nãos a muitas coisas. Maldito signo que não me deixa olhar o horizonte! Tenho o olhar fixo e subterrâneo.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

pergunta ao açougueiro

-Você tem coração?

segunda-feira, janeiro 29, 2007

lágrimas laranjas

Ela que come mexerica como quem medita. Primeiro tira meticulosamente toda sua casca grossa. Livre da casca, sente em suas mãos a textura irreverente que tem a fruta. Abre a fina membrana branca e separa as pequenas gotas de sumo. Come uma a uma. Acha engraçado que cada gomo de mexerica tenha a forma de um sorriso, que contém dentro dele minúsculas lágrimas laranjas. Ela compreende a fruta. "Bergamota" ou "Vergamota", "laranja-cravo" e "tangerina". E também "laranja-mimosa" ou simplesmente "mimosa". Tangerina deriva de Tanger, cidade marroquina.

domingo, janeiro 28, 2007

adolescendo

Marcello, eu te amo!

Sofro porque o homem mais incrível que o gênero humano já produziu está morto.
Mas pelo menos ainda existem chocolates, o rosto e a voz dele em dvds e tardes vazias de domingo.

linha curva

No espelho o grande susto, estou me tornando um arabesco! Meus traços, com o passar dos anos, tornam-se cada vez mais árabes. Meus olhos parecem maiores e meu nariz fica cada vez mais reto. Minhas linhas insistem em ser apenas ornamentos. Gosto de pensar que é obra de Dona Julia e de Seu Bichara, imprimindo suas ancestralidades em mim, num rosto que já foi tão comum, tão "te conheço de algum lugar". É também minha forma de protesto: enquanto a cultura árabe continuar sendo a sombra da humanidade, serei cada vez mais curva. Os meus olhos aumentarão e meu nariz será cada vez mais reto. Aviso, pode ser perigoso. E ainda terão a pachorra de me chamar de terrorista.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

jesus papão

Na rua vi escrito: "Jesus vai te pegar"!

terça-feira, janeiro 23, 2007

clarice e gatos

Trecho do depoimento concedido por Clarice Lispector aos escritores Affonso Romano de Sant' Anna e Marina Colassanti, no MIS/RJ em outubro de 1976.

Marina Colassanti: Você disse que é um animal. Você é algum animal determinado?

Clarice Lispetor: Não, não me sinto não. Os outro é que me achavam com ar de tigre, de pantera. Outros me achavam parecida com uma garça, por causa das pernas compridas... Quando eu era pequena, eu tinha gato que não acabava mais...

Marina Colassanti: As pessoas devem achar que você é meio felina por causa dos olhos, mas não é não. É porque você tem um comportamento interno e uma observação constante que é dos felinos.

Clarice Lispector: É, eu concordo. Com aquilo que eu conheço dos gatos, eu concordo.


Eu também concordo Clarice.

história de uma gata

Lendo um livro muito sensível sobre gatos, de Sonia Hirsch, me deu vontade de falar sobre o novo acontecimento felino aqui de casa: Giulietta agora sai pra passear.
O curioso é que isso só acontece à noite, o dia serve para ela descansar da noitada que passou. O mais bonitinho é a carinha incrivelmente safada com que ela volta. O que ela viveu, eu não sei, mas tenho uma curiosidade enorme. Como toda mãe (ops...) superprotetora fico aflita até que ela volte. Os perigos são imensos: ratos envenenados, vizinhos que não gostam e maltratam gatos, carros apressados pela madrugada e toda gama de exageros que a superproteção pode inventar.
Fellini, o gato macho e irmão de Giulietta, também fica preocupado, mia incessantemente até que ela volte. Ele não sai pra rua. É o filhinho da mamãe (ops...), vive grudado em mim e até faz greve de fome quando eu não estou e devo confessar que adoro esse grude. Enquanto isso, Giulietta canta sua liberdade pelos telhados do bairro com outras gatas extraordinárias.

Para encerrar, filosofia barata: a gata fêmea guarda em si o arquétipo da mulher selvagem, enquanto ela sai pra vadiar, o gato macho fica chorando seu abandono. Meninas, precisamos olhar mais pra natureza que é realmente sábia!

domingo, janeiro 21, 2007

o desaparecimento de helena m. castro

Em sua casa não paravam empregadas domésticas. Afinal, ninguém passava as roupas de seu marido como ela. A primeira foi Silmara que deixava manchas nas camisas dele. Seguida de Valnice, que não seguia sua ordem de passar um pano com água morna e sabão de coco no sofá de couro uma vez por semana. E Suely que era incapaz de colocar a mesa de centro no lugar certo, fora o empilhamento desordenado dos tapewears que era o que a mais irritava.
Pouco a pouco foi esquivando-se de seu trabalho como jornalista e virou dona-de-casa. Era caprichosíssima. De forno e fogão, fazia do trivial ao requintado. Sua casa brilhva e cheirava bem, as roupas limpas, os armário ordenados, os tapewears separados por cores e tamanhos. Vieram os filhos e sua vida de dona-de-casa tornou-se ainda mais completa.
Estranhamente começou a sofrer de obstipação intestinal (prisão de ventre para ser direta). Uma argentina amiga sua, comentando o caso, disse que tinha um curioso livro sobre Psicosomatismo, " desordenes ó desequilibrios del cuerpo causados por la mente", e se prontificou a emprestá-lo. Achou tudo aquilo uma grande bobagem e ofendeu-se com a ousadia da amiga em querer saber mais dela do que ela própria. Não aceitou o livro.
Um dia aconteceu: aspirava meticulosamente sua casa como de costume e com a face de quem se resignou a não perceber, foi sugada pelo aspirador de pó e desapareceu completamente.

terça-feira, janeiro 16, 2007

ei...

Ei... Tem alguém aí?

segunda-feira, janeiro 15, 2007

battute italiane

1

-Lo sai cosa fa un asino al sole?
-No.
-Un asino al sole fa... ombra!

2

-Cosa fanno dieci galli sottoterra?
-Non lo so.
-Diece galli sottoterra fanno una... galleria!

3

-Qual è la differenza tra un matematico e Elvis Presley?
-Qual è?
-Il matematico conta, Elvis Presley canta!

INCRÍVEL!

assista já

La Double Vie de Véronique

onipresença

"Ofélia é que não voltou: cresceu. Foi ser a princesa hindu por quem no deserto sua tribo esperava."

domingo, janeiro 14, 2007

bastidores da alma

Fellini deita a cabeça em minha mão e ronrona.
Sinto as batidas do coração de Fellini.
Duas borboletas secam as asas sob nossos olhos.
Azaléia cresce mais um pouco.
O papel higiênico do lavabo acaba.
Duas borboletas entram em casa, Giulietta quebra as asas de uma delas.
Sinto as batidas do coração dele.
A fenda do meu vestido rasga.
O papel higiênico do banheiro de dentro da casa também acaba.
Carambola não tem graça se não for cortada como estrela.
Carambola sempre tem graça na companhia dele.
Rimos caçando uma barata.
Olhar sério que antecede um sorriso.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

letra pequena

Porque assim só lê quem se esforça.

questão de ordem

A gente percebe que está ficando velho quando depois de dar uma festa, não consegue dormir antes de lavar toda louça e pôr tudo no seu devido lugar.

...

A paixão segundo G. M.

paschoal alves pereira

Quando tinha dezoito anos se apaixonou por um português carregador de malas. Enquanto esteve em Coimbra vivia pelo gajo. Hospedada no hotel em que ele trabalhava, passava horas sentada em frente a recepção vendo o moço trabalhar. A cidade não importava, não conheceu.
No dia de ir embora, entristeceu. Deixava na pequena cidade o único homem que a faria feliz. Como despedida ele carregou sua mala.
Mais tarde, em Lisboa, numa legítima casa de fado, caiu em lágrimas ao ouvir os tristes lamentos portugueses. A música a arrebatava de uma maneira que nunca tinha experimentado antes. Era fato: sua alma era portuguesa, era Paschoal Alves Pereira.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

trem


o homem que distribuía guarda-chuvas tira um cochilo

primazia

"Patria, socialismo o muerte. Lo juro!"

intensa vida social

Em tempos de solidão em massa: internet para os que têm dinheiro; para os que não têm, encontros com Deus em corais católicos e evangélicos. Pare de sofrer!

grajaú

Engajada em projetos sociais foi parar no Grajaú, o bairro de sua diarista.
A caminho do novo trabalho, percorria o trajeto diretamente oposto ao que tinha acabado de ser feito pela diarista. O percurso era o mesmo só que invertido. Uma de ônibus, outra de carro. A paisagem ia mudando, ficando feia.
Embora observada de ângulos diferentes, as duas passavam pela Praça Moscou.
Praça Moscou. Para uma, Moscou era apenas um nome; quem sabe um lugar no mapa? Para a outra era lugar visitado, com cheiro e cor definida, um lugar de lembranças e estórias vividas.
E a vida corria hipócrita na zona sul da cidade.

marido

O amor é a coisa mais impressionante que já foi inventada. De verdade, nada mais vale a pena. Só me vale ser humana por poder amar. Embora gatos também amem, o meu faz até greve de fome.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

eis a questão

Ser ou não ser fictício? Dá pra ser ficção?

minha pergunta aos orixás

E essa angústia derradeira?

casa de vó

Lembrança de dia de nascimento junto da estante dos livros. Casa de vó. Por que será que avó faz isso? Por que será que ele faz isso?

ego trip

Há de se negociar pelo pão nosso de cada dia.
Pelo egoísmo nosso de cada dia.
Ansiedade gritante por um ajuste mais prazeroso, mais de encontro com as almas.
Lavar as mãos? Não quero, não consigo, não acredito nisso. Não lavo as minhas.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

sete ondas

Ao som do mar e à luz do céu profundo, ano novo. Pensou que o seu maior desejo era realmente encarnar nome e sobrenome. Ela, que era insistentemente formada pelos assuntos do ar, queria agora colar-se ao número de seu RG. Sem olhar pros lados, nada de planos mirabolantes. Pediu o dia-a-dia.