domingo, janeiro 21, 2007

o desaparecimento de helena m. castro

Em sua casa não paravam empregadas domésticas. Afinal, ninguém passava as roupas de seu marido como ela. A primeira foi Silmara que deixava manchas nas camisas dele. Seguida de Valnice, que não seguia sua ordem de passar um pano com água morna e sabão de coco no sofá de couro uma vez por semana. E Suely que era incapaz de colocar a mesa de centro no lugar certo, fora o empilhamento desordenado dos tapewears que era o que a mais irritava.
Pouco a pouco foi esquivando-se de seu trabalho como jornalista e virou dona-de-casa. Era caprichosíssima. De forno e fogão, fazia do trivial ao requintado. Sua casa brilhva e cheirava bem, as roupas limpas, os armário ordenados, os tapewears separados por cores e tamanhos. Vieram os filhos e sua vida de dona-de-casa tornou-se ainda mais completa.
Estranhamente começou a sofrer de obstipação intestinal (prisão de ventre para ser direta). Uma argentina amiga sua, comentando o caso, disse que tinha um curioso livro sobre Psicosomatismo, " desordenes ó desequilibrios del cuerpo causados por la mente", e se prontificou a emprestá-lo. Achou tudo aquilo uma grande bobagem e ofendeu-se com a ousadia da amiga em querer saber mais dela do que ela própria. Não aceitou o livro.
Um dia aconteceu: aspirava meticulosamente sua casa como de costume e com a face de quem se resignou a não perceber, foi sugada pelo aspirador de pó e desapareceu completamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa!
Onde estará Helena M. Castro!?
Grande dúvida!

Anônimo disse...

Medo de Helena!
Às vezes, como mexericas daquele jeitinho que vc falou, pra ver se sossego o aspirador que há mim. Cada lágrima explode na boca, deixando pra trás apenas o seu perfume...