sexta-feira, dezembro 15, 2006

boba

No metrô ela me olhava. Completamente vesga, me olhava como ninguém nunca fizera antes. Olhava e sorria. Não sei se era sorriso porque, boba que era, tinha a boca constantemente aberta. Num dia de sol escaldante, vestia uma saia pesada de lã que contrastava com sua leveza. Tudo nela era leve, tinha o semblante dos bobos, menos a saia e o olhar. E ela não parava de me olhar. Segurava uma garrafa de refrigerante e um saco de frutas que não lhe importavam, eram objetos completamente alheios a sua vontade de boba, foram colocados ali e ali estavam. E me olhava cada vez mais fundo. Não pude suportar aquele olhar. Eu, que sou escafandrista para as coisas da vida, desviei o olhar e desci na estação mais próxima.

3 comentários:

Anônimo disse...

Seus textos são realmente muito bons.
Nenhuma corujice nessa afirmação. E, por isso mesmo, estou estorando de orgulho...

Anônimo disse...

quero um livro teu pra ficar na minha cabeceira. mas tem que ser um livro com histórias infinitas...

Anônimo disse...

ops! estourando...