domingo, maio 09, 2010

solitários

O homem pediu a ela que sumisse, que virasse pó, que fosse embora para nunca mais. Dizia quase sem voz, como um velho doente cheio de pigarro no peito. Evitava olhar para ela. Dizia com os olhos fixos num pedacinho de raio de sol que entrava pela fresta da persiana quebrada - o primeiro sinal do dia que pouco a pouco rasgava a madrugada.
Não olhava para ela, mas tinha clareza de cada gesto que ela fazia por pura sensação, por sentir muito aquela moça. Era com dor que a expulsava, dor que dói no corpo e deixa a alma furada.
Mas ela tinha que ir embora, tinha que sumir de sua vista para todo o para sempre, tinha que deixar de respirar quente toda noite perto do peito dele. Aquele homem amava a solidão e tinha medo de gente. Mas aconteceu de amar e amar acontece mesmo quando a gente ainda não sabe o que fazer como o amor.
Ela saiu como se tivesse engolido um buraco. Sem nada entender, nunca mais voltou. Um rombo se fez em sua alma.
Hoje já retalhada a moça se desenganou do grande amor e entregar-se nunca mais aconteceu.
Dois solitários surgiram no mundo: o homem e a moça.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você é muito talentosa.. confesso, às vezes me confundo e não entendo direito coisa vc quer dizer, porém, acho q essa é a intenção.. entendo, mas fico na dúvida... "Entretanto duvido a dúvida, por ser dúvida fruto de uma premissa lógica. Mas nego,afirmo e não duvido de nada,Prisioneiro sem grade desse silêncio eterno." Vc é Linda. &*

IZILDA disse...

Concordo.
Você é linda e escreve lindamente!