quarta-feira, setembro 16, 2009

homens

Era a única garota com seu pai, no meio de tantos pais que levavam seus filhos-homens pelas mãos. Na grande fazenda havia um local onde se treinava tiro. E os pais-comunistas, guerrilheiros de outrora, sabiam que uma criança também deveria preparar-se para a revolução. "Assim como os filhos de Lamarca!".
Foi naquele dia que percebeu, ainda menina de oito anos, algo muito além dos ideais revolucionários.
A menina que tinha estilingue e camisa do flamengo, notou de repente que a gola decotada de sua blusa azul royal deixava seu ombro esquerdo pelado, completamente à mostra.
O toque do algodão azul na sua pele, a cor moreno-férias de seu ombro fizeram com que ela percebesse o óbvio: não era igual a eles. Homens ou meninos, ela era diferente de todos.
Passou então a prestar mais atenção na sensação de sua pele descoberta do que na aula de tiro. Sentia-se linda! Plena. Feminina. Exibia, orgulhosa, seu ombro esquerdo. Nada era intencional, nem descabido. Era só a percepção de sua sensualidade, de sua feminilidade, de sua diferença entre todos. E a partir daquele dia, começou a olhar o sexo oposto de modo enviesado.
O gênero masculino lhe interessava muito e já entendia que um dia o desejaria; mas aí seria não só com o ombro, mas com o corpo inteiro. Homens, para ela, era uma questão de espiritualidade. E o amor matéria de salvação.

Um comentário:

IZILDA disse...

Poético, sensível, bem colocado, bem escrito,lindo...

Quando eu crescer quero ser igualzinha a você!