segunda-feira, agosto 03, 2009

uma velha

Uma mulher sozinha, cheia de pequenas manchas nas mãos. Veias grossas e voz fina. Fala do tempo, do edredom que não seca, de sua coluna em forma de "S". Peço silêncio, ela se cala. Suas mãos estendidas sobre mim, ela me benze. Reparo as unhas sem esmaltes, mas cuidadosamente lixadas. Não consigo parar de olhar para aquela mulher que me benze, disfarço. Ela não está ali, benze todo dia e eu sou mais uma. Faz isso de graça; é só entrar que ela benze. Quer companhia. Faço minha parte: me benzendo, ela é importante. Pensamento atrás de pensamento, olho pra ela e ela... dormiu. Saio devagar pra não acordá-la do seu sonho de velhinha. Mais alguém entrará ali, muitos outros.

Um comentário:

juliana c disse...

ontem que fiquei sabendo dessa história e acordei hoje pensando justamente nisso: tinha certeza que vc escreveria algo aquie pensando que, como sempre, eu ia adorar ler. bom dia!