quarta-feira, agosto 19, 2009

retroativo

Talvez você devesse saber do dia em que vi pela primeira vez todo aquele amarelo reunido; meu pai parou o carro pra realizar o que eu queria: correr no meio dos girassóis. As flores eram tão imensas que quase ultrapassavam a minha altura. E haviam abelhas ali. E a propriedade tinha um dono. E era eu, também, ali.

Naquela mesma viagem havia um anjo de pedra. Sei que os anjos não têm sexo, mas aquele era mulher. Fiz uma promessa à anja de pedra: voltaria um dia. E os mesmos olhos de pedra que me ecaravam, encarariam meu rosto alguns anos mais velha.

Muitos anos antes, eu olhei pro céu e pra terra e sem saber escrever ditei o que seria meu primeiro escrito. Eles acharam que eu tinha jeito pra coisa e me deram um caderno de poesia. Eu fingia que escrevia as letras que aquela altura desconhecia. Decorava a idéia do que "escrevia" e saia "lendo" pros outros que achavam "a menina uma graça!".

Alguns anos mais tarde encontrei um moço de olhos azuis em quem nunca encostei e muitos outros de olhos catanhos. Alguns consumados, muitos outros consumidos.

A partir daí o planeta Vênus retrocedeu e o caminho vermelho teve início.

Muito, muito mais tarde, macumbeira, escolhi uma calcinha vermelha porque sabia que veria por ali certo moço cruzando a esquina, bem perto de mim. E ali estava ele: não viu a calcinha vermelha, mas me viu.

Muitos anos antes, pulava da mesa da escola até o chão, de mãos dadas com os dois meninos: Gil e Gui.

E era você comigo no dia em que deixei pra trás meu guia. Amanheci sozinha pra caminhar antes do Sol nascer na terra do meu bisavô. Você me viu paralisada diante da água que brotava do meu rosto. Lambeu minha ferida e me deixou seguir.

E, naquele dia, eu passei a te seguir.

Um comentário:

ju irmã disse...

lindo. beijo da roça.