sexta-feira, junho 01, 2007

minha avó é uma sereia

Ela era cabeleireira e também é minha avó. Morávamos bem pertinho. Prédios colados que facilitavam a livre expressão de nossas hereditariedades italiana e espanhola: quando queríamos falar uma com a outra era só ir até a janela e gritar sonoramente uma pela outra.
Ir a casa dela era fácil e eu adorava. Podia chegar lá sozinha sem interferência de pai ou mãe. E passava lá quase todas as tardes. Ela deixava (e ainda deixa) que eu mexesse em suas bijuterias, perfumes e, por vezes, até abria seu território sagrado, onde ficavam muito bem guardados os casacos de pele de minha bisavó.
Minha Julieta (esse é o nome dela) é das pessoas mais vidosas que conheço e quando minha mãe era pequena, era dona de um salão de beleza que funcionava em sua própria casa mesmo.
Nas tardes em que passavamos juntas, vez por outra, ela pegava a tesoura e cortava um pouquinho meu cabelo. Minhas visitas eram frequentes e para desespero de minha mãe, os cortes também! Uma franjinha aqui, uma costeleta acolá, uns três dedinhos a menos, um curto radical e minha vida capilar era a mais movimentada dos meios infantis por onde andava.

2 comentários:

Isabela Cordaro disse...

amo a julieta!
adorei seu texto.

IZILDA disse...

E minha mãe é uma sereia...

Adoro seus escritos!