quinta-feira, fevereiro 13, 2014

a noite

Quatro filhos. Três meninos e uma menina. Banho tomado. Lição de casa conferida.

 Era hora de Marlene esquentar quatro canecas de leite fortemente adoçadas com uma mistura de achocolatado e três colheres de açúcar - relaxava as crianças.

Leite tomado. Os quatro meninos de pijama, cabelos e dentes escovados, aguardavam sem muita paciência, cada um, seu beijo de boa noite.

No mesmo quarto, dois beliches: os meninos mais velhos dormiam na cama de cima, o menino mais novo e a única menina tinham direito à segurança da cama de baixo. Um pouco de confusão se instalava - Marlene tentava como podia dar conta de tudo aquilo.

No outro quarto que restava no pequeno apartamento de 65 m², Dona Ivone, mãe do ex-marido de Marlene, dormia.

A senhora gorda e as crianças foram o que restaram da conturbada relação. A velha olhava as crianças à noite, horário em que Marlene saía para o serviço.

Dividiam o quarto, Dona Ivone e Marlene, mas o turno de trabalho de uma permitia a paz e convivência entre as duas.

Alta madrugada. As quatro crianças dormiam. Dona Ivone roncava sua música de todas as noites.

Marlene de banho tomado e olhos pintados. Tirava os sapatos, calculava o esquema chave-fechadura para não fazer ruído.

Na rua, sozinha, um pouco de paz e liberdade. Aguardava o motorista da firma.

Depois de uns tantos quilômetros, já com os colegas sonolentos na mesma van, orgulhosa avistava a placa verde de seu setor: “SP 160 – Imigrantes: São Paulo – Baixada Santista”.

No km 24, sentido Batistini, Marlene cobrava 4,80 por veículo que parasse próximo à sua cabine.

Um comentário:

Cesar Cordaro disse...

Bom e longo retorno. Gostei do texto.