domingo, agosto 10, 2008

ofensiva

Sem nenhum ritual, como faço todos os dias, abro a porta do armário para sem muito escolher me vestir para o dia. Meu rosto me surpreende refletido no espelho: não sou quem há muito pensava. Meu rosto me desmente, me desautoriza. Assim, face neutra, cara-a-cara comigo, sou minha inimiga. O sorriso habitual destempera a face escondida. Sou séria, olhos grandes. Minha boca é ofensiva, meu olhar é ofensivo. Os anos passando revelam uma mulher há muito escondida. Sou surpreendida com a agressividade tão distante da minha famosa suavidade. Sou mulher de choro alto com olhos que rasgam minha pele para ver o mundo e, às vezes, o ofendo com a composição irregular que sou.

2 comentários:

Tania Campos disse...

Adorei o texto, escafandrista mudada. Desconstrução a toda prova!
Posso colocar seu blog nos links do meu blog?
beijo

Anônimo disse...

A vida agradece ofensas genuínas. E eu agradeço à vida a oportunidade de te ler...