sexta-feira, abril 26, 2013

polaco

O mendigo parecia um polonês. Sentado no banco redondo de pedra, no meio da praça, meditava dentro de si. Estava calor, mas o mendigo polaco permanecia encapotado num pesado sobretudo preto. De barbas brancas e cabelo loiro acinzentado perdia-se no vazio. Outros mendigos moravam na praça; negros, brancos e conversavam entre si. O mendigo eslavo não falava e nem olhava para ninguém. Perdido dentro dele mesmo, era como se estivesse numa outra praça, num outro tempo, bem distante dali. Meus olhos não queriam deixar de vê-lo. Minha tristeza também estava ali na beleza daquele mendigo inadequado no meio da confusão. Passando sozinha pela praça, minha alma fisgou a do mendigo. Quis sê-lo. Voyeur daquele outro. Então, o mendigo olhou para mim. Envergonhada, desviei o olhar ao saber que minha observação preenchera aquele vazio.

Um comentário:

Cesar Cordaro disse...

Pensei que o ato de observar da narradora, na verdade, incomodara aquele vazio.
Seu último texto já passa de um ano, estava com saudade da sua criatividade literária.