sábado, junho 18, 2011

mães

Uma moça com uma boneca de plástico em seus braços. Uma moça inebriada com a boneca como se realmente tivesse tido um bebê. A boneca era tão real. Ela até conseguia encaixar a boquinha do bebê de plástico em seus seios de carne e dar de mamar ao bebê.
Ela acreditava ter a sensação descrita por muitas mulheres sobre a primeira amamentação. Sentia na pele: dor, prazer, plenitude. Só que daquele seio não saía leite.
Ficava o tempo todo com a boneca - bebê. Nunca percebeu nenhum dos olhares de reprovação que a julgavam louca ou analisavam seu caso.
Foi feliz com a sua boneca - bebê até o dia em que, no ônibus, uma outra mulher e seu bebê de verdade sentaram-se ao lado dela. A moça não conseguia tirar os olhos daquela mãe com seu filho nos braços.
Perdeu seu ponto de descida vidrada que estava. Nada mais importava, apenas o movimento de sucção daqueles pequenos lábios no bico intumescido e inflado daquela mulher.
Ficou profundamente ofendida. Largou sua criança de plástico no banco para sair pra nunca mais. A outra mulher com seu bebê de verdade, sem nada entender, ainda tentou avisá-la do esquecimento. A moça voltou e cuspiu no rosto dela.
A mulher com seu bebê de verdade levou consigo a boneca.
Adotou a criança de plástico que decorou pra sempre o quarto de seu filho. Fim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando se tem a sensação de que se tem o que não existe. Quando a gente entra na rotina e acha que é feliz porque inventa muletas pra se sentir feliz... então olha do lado e percebe que queremos o simulacro... e somos esse tal simulacro, uma cópia imperfeita do que pode ser o real.

quando percebo que hoje é domingo e que estou no meu quartinho só ... e percebo que vivo me escondendo do sol... percebo que também quero largar a minha boneca sozinha em um banco de um ônibus...

Anônimo disse...

E novamente surpreendendo a todos nós meros leitors, você ultrapassa os limites da boa qualidade literária, presenteando a todos com suas sutis e cativantes palavras