quinta-feira, janeiro 07, 2010

2 ou 1

Quando parece que se esgota o que se pode saber de outra pessoa, quando se conhece cada poro de determinada pessoa, quando se sabe o número de linhas que a testa dela enruga para exprimir cada sensação, quando se conhece o cheiro do outro ( e se reconhece os passos desse outro pelas narinas - como faro de cachorro ), quando não se sabe mais se é você ou o outro que gosta de adoçar com mel o café com leite, quando se olha nas prateleiras e não se lembra mais de quem era determinado livro em vida de solteiro, quando seu corpo se ergonomiza ao sono do outro, quando o sapato largado no chão vira armadilha fácil e irritante, quando o espelho amanhece escrito de lápis de olho azul brilhante como presente de amor, quando as escovas de dentes amanhecem juntas, quando se divide IPVA e IPTU, quando o Natal é fracionado entre famílias, quando tudo isso acontece e ainda assim... - o grande susto - SE NOTA O OUTRO COMO OUTRO ( diferente e independente de você ). E se experimenta o amargo - o grande trote - porque te ensinaram errado: a gente é um, embora queira ser dois. E de repente o amargo se atenua porque a sensação de ser um só, livre e original, se torna doce.

2 comentários:

Cesar Cordaro disse...

Felizmente, este texto mostra que aquilo que foi escrito em 22/12/2009 não passou de mera impressão.

IZILDA disse...

Estou extasiada com seu texto. Fluido, belo, forte e maduro.
Quando eu crescer, quero escrever como você!