sexta-feira, julho 06, 2007

teste

Era uma vida sem volta. Cada escolha, um salto pra novidade.

Era uma vida de ficar esquecido no teleférico no meio da neve como uma vez me contaram. A neve cortava seus lábios ressecados e o teléferico se fazia parado para que uma atitude fosse tomada. Era um salto sobre as montanhas geladas. O risco de cair num pedaço de rio congelado e se tornar geleira para todo o sempre. Era como encontrar um alfinete no fundo da gaveta quando se precisa dele, essa era a vida daquele homem.

Esquecido no teleférico, esquecido no dia-a-dia. Como se com esses pequenos e fatais acontecimentos, ele tivesse que lembrar à natureza a todo instante que também existia. Existia e sua trivialidade se fazia de dias extraordinários. A inconseqüência era comum a ele, mas ele mesmo não era inconseqüente.

Como se ali, parado e quase congelado, tivesse que provar e merecer sua existência. Seus dias eram de encontros perigosos com leões ferozes a toda hora. Sabia manter a calma, não se assombrava, tudo aquilo fazia parte de sua condição nunca antes imaginada.

Ali, sozinho, a escuridão chegou. E a neve, cada vez mais espessa o provocava para que fizesse alguma coisa. Ele fechou os olhos e se preparou para saltar em direção ao inesperado.

Do céu se ouviu então uma imensa gargalhada de um deus gordo e espirituoso. E a noite se fez dia e a imobilidade do teleférico se fez movimento. Agora, deus celebraria seu filho com uma grande taça de vinho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Há sempre um Deus gordo e espirituoso orquestrando cada instante de imobilidade, que antecede o movimento seguinte, numa linda, constante e harmoniosa melodia...

juliana c disse...

desculpa, gá,
mas esse é pra minha mãe:
que bonito, mãe!