Era uma vida sem volta. Cada escolha, um salto pra novidade.
Era uma vida de ficar esquecido no teleférico no meio da neve como uma vez me contaram. A neve cortava seus lábios ressecados e o teléferico se fazia parado para que uma atitude fosse tomada. Era um salto sobre as montanhas geladas. O risco de cair num pedaço de rio congelado e se tornar geleira para todo o sempre. Era como encontrar um alfinete no fundo da gaveta quando se precisa dele, essa era a vida daquele homem.
Esquecido no teleférico, esquecido no dia-a-dia. Como se com esses pequenos e fatais acontecimentos, ele tivesse que lembrar à natureza a todo instante que também existia. Existia e sua trivialidade se fazia de dias extraordinários. A inconseqüência era comum a ele, mas ele mesmo não era inconseqüente.
Como se ali, parado e quase congelado, tivesse que provar e merecer sua existência. Seus dias eram de encontros perigosos com leões ferozes a toda hora. Sabia manter a calma, não se assombrava, tudo aquilo fazia parte de sua condição nunca antes imaginada.
Ali, sozinho, a escuridão chegou. E a neve, cada vez mais espessa o provocava para que fizesse alguma coisa. Ele fechou os olhos e se preparou para saltar em direção ao inesperado.
Do céu se ouviu então uma imensa gargalhada de um deus gordo e espirituoso. E a noite se fez dia e a imobilidade do teleférico se fez movimento. Agora, deus celebraria seu filho com uma grande taça de vinho.
2 comentários:
Há sempre um Deus gordo e espirituoso orquestrando cada instante de imobilidade, que antecede o movimento seguinte, numa linda, constante e harmoniosa melodia...
desculpa, gá,
mas esse é pra minha mãe:
que bonito, mãe!
Postar um comentário