quarta-feira, junho 25, 2008

para bia

Ela disse que seria assim, uma vida por olhos de jabuticaba.
O que esses olhos viam eram apenas contornos. O que esses grandes olhos sentiam era inexpremível a olho nu. Era uma segunda natureza, um olhar de raio x que atravessa o que é visto. Ela era dessas pessoas que estão junto de ti e no segundo seguinte já foram, não estão mais. Havia nela um vazio que nem ela alcançava. Quem quisesse mergulhar nos seus olhos de jabuticaba, teria de se esquecer de si. Eram olhos tristes. Olhos enevoados, formados por minúsculas partículas de água. Olhos em suspensão, prontos para o sumiço repentino. Porque em silêncio, a qualquer momento, a dona desses olhos olhava para dentro e desaparecia. Tinha um pé de jabuticaba dentro de si. E pra lá ia, dentro dela mesma em usufruto próprio a chupar jabuticabas. Suas frutas em botão.