sexta-feira, novembro 30, 2007

sobremesas afetivas

Minha nova vegetarianice compreende uma árdua batalha contra um dos maiores venenos que a humanidade já foi capaz de inventar, o açúcar! Entre o ser ou não ser doce e uma dentada num bolo de chocolate, parafraseio a famosa frase de Clarice: Mas já que se há de evitá-lo, que ao menos não se esmaguem com dietas as sobremesas afetivas.
Porque pudim de leite e pinholata são fundamentais! Parte do meu legado familiar e ninguém faz como elas.
Lambuzarei meus dedos e minh' alma com prazer e devoção! Amém avós! No Natal me permitirei ter esperança e um gosto doce na boca. No dia em que o Cristo nasceu a esperança de amor e paz entre os homens se renova também, e é doce como doce de vó.

clarice lispector

"Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

quinta-feira, novembro 29, 2007

vale a pena

É lindo, lindo, lindo.
Clique e assista.

domingo, novembro 25, 2007

água viva

Desde pequena causava inundações. Esquecia a torneira ligada e inundava o apartamento do sétimo andar para desespero de sua mãe e do vizinho do sexto andar. Eram constantes rodos, panos e baldes a apagar vestígios de seu samsara infantil.
Cresceu e foi morar numa casa amarela. Os três primeiros anos de morada foram repletos de acidentes que destruiram pintura de parede e a estante de livros: era a chuva que furava a barreira das portas e alcançava o interior da tal casa amarela, a banheira que vazava água pelos azulejos, o filtro de água que fazia música com o respingar das gotas, além das infinitas mangueiras quebradas pela violência com que a água pedia pra sair naquela casa.
Nos últimos tempos, como se não bastasse, deu pra sonhar com alagamentos. Sonhava que vivia numa terra-oceano, onde em horror e devaneio sua pele virava escama. Acordava assustada e ia tomar banho. Limpava com dedicação cada pedacinho de seu corpo. Tomava então um copo d' água e tentava desesperadamente voltar a dormir.

Esse quase-conto não tem fim porque essa mulher sou eu. E acaba de acordar de mais um aguaceiro. Clamo por ajuda e peço auxílio dos bombeiros pois o homem que dorme ao meu lado, o mesmo que um dia em criança quase incendiou a área de serviço do apartamento de seus pais, sonha nesse instante com chamas e labaredas.

domingo, novembro 18, 2007

prosopopéia

Hoje, ela me pediu forte e urgentemente que a lesse. Abri numa página qualquer rogando salvação. Ela, então, me jogou uma sentença e me alertou para o quanto se pensa em dia de casa vazia. A casa está vazia, tem restos do almoço de ontem. É necessário vigília.

adolescentes

Ele: Me conta um segredo seu?
Ela: (risos). Acho que não tem quase nada meu que você não saiba. Sem graça, né?
Ele: Dúvido.
Ela: Hum...
Ele: Vai.
Ela: Já sei.
Ele: Conta!
Ela: Era dramática quando pequena, me escondia na cozinha pra experimentar me matar com faca de requeijão.
Ele: Ninguém experimenta se matar. É mata ou não mata.
Ela: Eu experimentava, não era uma tentativa séria e nem eu era uma criança suicida. Porque a gente é da vida, né? Mas queria ver o que aconteceria se eu morresse.
Ele: Mas você não morria e o que acontecia?
Ela: Ficava com medo de mim.
Ele: Eu sempre me imaginava morto. Me via no túmulo e toda minha família ao redor chorando por mim.
Ela: Quando eu tava na quinta série, minha amiga Júlia sonhou que eu morria e que só ela ia no meu enterro. Nunca esqueci disso.
Ele: Nunca tentei me matar e acho esse tema cansativo. Viadagem.
Ela: Mas tem gente que sofre de verdade.
Eles: (silêncio)
Ela: Agora você, um segredo que eu não saiba.
Ele: De verdade? Você vai achar que já disse isso mil vezes e que não é segredo, mas desse jeito crescente...
Ela: Fala.
Ele: Eu te amo e é agora.

quinta-feira, novembro 15, 2007

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O resto é ponto final.

cravou o punhal no coração do inimigo

Já dormia aquele meu sono esquisito, aquele que todo dia antecede a chegada dele debaixo dos lençóis. Ele então, em segredo nosso, fez um pacto comigo.

Então, sonhei que retornava a minha terra natal e que lá, em praça pública, travava um duelo de facas e lanças. Eram 2 contra 2. Um homem estava ao meu lado e lutava comigo contra aquela espécie de coronel do agreste, acompanhado de seu capanga. Era agressiva. Tinha medo e coragem. Matava aquele bicho-homem que me acompanha só por me chamarem como me chamam, Gabriela. E ter o cheiro de cravo e a cor da canela.

terça-feira, novembro 06, 2007

dengo

Hoje você fez visita num sonho que era só meu. Mas depois me lembro que você sou eu e que em algum momento colei meu peito ao bater do seu. E se você sou eu, e me relembra ritmo e harmonia de querer bem, hoje sonhei comigo e me amei feliz.

sábado, novembro 03, 2007

déjà vu

Então viver era isso, um grande esquecimento! E o desafio estava dado, lembrar-se de quem se era.